segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Usos e costumes


Tudo passa e nada passa, quase sem nos apercebermos.

O dia de hoje é diferente do dia de ontem e o dia de amanhã já não será como hoje! As "pequenas" diferenças que se vão registando no dia-a-dia, só são notadas com clareza à distância no tempo.

Quem vive desde há cinquenta anos, nota que já quase nada é como então!

Vejamos a evolução:

Nas aldeias, dominavam os senhores poderosos, os chamados ricos, os donos das grandes quintas, moinhos, lagares, etc.. Tudo passava por eles: Juntas de freguesia, regedores e cabos da ordem pública, membros das comissões fabriqueiras, etc. Eram os detentores de todas as influências locais.

O zé-povinho, nada mais podia fazer que não fosse curvar-se diante deles, estar ao seu serviço sem reservas e assim ir sobrevivendo. Não tinha alternativas! Ocupava-se nos trabalhos mais humildes: Caseiros, feitores das terras ou jornaleiros, trabalhando de sol a sol para ganhar a côdea!

Os artistas sujeitavam-se a trabalhar naquilo que aparecia: pedreiros, trolhas, carpinteiros, mineiros, e outros. Tudo eram trabalhos duros, porque feitos à mão, pois não havia máquinas! Pá e pica, sacholas, alviões, serras, tudo manejado pela força do braço.

Havia ainda os pequenos industriais: marceneiros, alfaiates, ferreiros, cesteiros, etc. Muito poucas eram as indústrias que tinham empregados: Fábricas serração, padarias, e pouco mais, lá tinham um ou outro empregado. Os chamados mestres de obras: pedreiros e carpinteiros que tratavam da construção e reparação de casas e outras construções, esses já empregavam mais gente, mas todos os ofícios pesados e muito mal remunerados.

As famílias, normalmente numerosas, estavam longe de ter o necessário para viver dignamente! Passava-se muita necessidade!

Os alimentos compravam-se nas mercearias, quase sempre a crédito e à míngua: meio quartilho de azeite; meio quilo de broa para ser repartido por várias pessoas à refeição! Até as sardinhas que se compravam a cinquenta à coroa, uma só sardinha era racionada para duas pessoas, meia para cada, que depois de comida se ficava a lamber os dedos! E, se não faltasse uma tigela de caldo ainda que mal feito, já não era muito mau!

O merceeiro tinha um livro onde anotava tudo o que vendia. O cliente, usava um pequeno caderno para apontar as compras que ia fazendo, tentando controlar as despesas, sempre difíceis de liquidar com o ordenado que se recebia. A conta, essa, ia crescendo no livro, porque os ganhos não davam, por mais que se poupasse.

A partir dos cinco anos já qualquer rapaz ou rapariga trabalhava, em casa ou a servir, olhar pelo gado ou criada doméstica, nem que fosse só pela alimentação e uns trapitos! Numa ou noutra casa que pagasse vinte escuditos por mês, já era muito bom!

Nos anos sessenta tudo se alterou.

O Governo de então, presidido pelo professor Marcelo Caetano, deu facilidades a quem quisesse sair para o estrangeiro, o que resultou rapidamente num êxodo autentico, especialmente para França e Alemanha!

Milhares de homens se aventuraram, saindo à sorte por esse mundo fora. Muitos, a salto, atravessando fronteiras em zonas menos vigiadas, eram levados por "passadores", alguns sem escrúpulos, exigiam em troco grandes verbas e por vezes os deixavam abandonados, perdidos nas montanhas, entregues ao Deus dará, mas eles, com coragem, lá conseguiam chegar "á terra prometida" em busca de melhores dias!

Quantos sacrifícios passaram nessa aventura até conseguir trabalho, com a legalização e adaptação à nova língua e novos costumes! Quantos se sujeitaram a morar em bairros de lata (Bidon-Ville - França), enquanto melhores condições não aparecessem!


Nessa altura as Províncias Ultramarinas lutavam pela sua independência.

Os nossos jovens eram obrigados a ir para a tropa. A maior parte, eram mobilizados para o ultramar, para lutar e defender aquilo que era nosso, assim se dizia!

Muitos por lá deram a vida; milhares os que vieram mutilados e tantos os que regressaram com traumas terríveis para o resto da sua vida!

Só quem fosse limitado escapava à tropa e, muito poucos os que tinham a sorte de cumprir no continente o serviço militar!

Com tanta gente a sair do País, os que por cá ficavam, começaram a exigir melhores salários, de modo especial os mais qualificados, que se tornavam insuficientes para dar resposta à oferta, cada vez maior, de mão-de-obra. Assim, tudo se alterou em pouco tempo!

Os emigrantes começaram a mandar dinheiro e por cá tudo ia melhorando.

A construção de casa própria era a maior aspiração de qualquer casal.

Os Bancos, com os cofres cheios de dinheiro, disponibilizavam mais empréstimos.

Aos emigrantes era emprestado dinheiro para construir casa própria, com juros mais baratos do que os juros que recebiam nos seus depósitos a prazo. Tudo isto originou uma forte dinamização na construção civil, na industria e no comércio. Foram criadas novas industrias e serviços. O comércio conheceu um grande desenvolvimento e, todo este processo, veio permitir melhores salários com a melhoria de vida para todos, de modo especial para a classe trabalhadora.

O acesso ao ensino foi facilitado, permitindo que os mais "pobres" se sentassem nos bancos das escolas ao lado dos "ricos", fazendo com que as diferenças até então existentes se desvanecessem, de tal modo que, a realidade vivida hoje, nada tem a ver com a de então.

Nos anos sessenta, para ouvir rádio, só nas casas de comércio. As tascas e os poucos cafés existentes enchiam-se, de modo especial aos Domingos da parte de tarde, para ouvir os relatos do futebol. Hoje não há casa que não tenha rádios em qualquer canto da casa.

Apareceu a televisão, toda a gente corria para ir ver, porque era quase um milagre ver e ouvir dentro duma caixa, as pessoas a falar lá em Lisboa, Televisão ainda a preto e branco. Hoje, TV a cores, em todas as casas há televisores em qualquer aposento da casa.

Depois do telefone, apareceu o telemóvel que, embora no início rudimentar, não deixou de revolucionar o mundo da comunicação. Com todo o aperfeiçoamento que se vai verificando, velhos e novos, ninguém dispensa a caixinha para onde quer que vá, e ainda bem, porque põe as pessoas informadas em tempo real!

Lembro-me de existirem nesta terra, nos anos cinquenta, apenas três automóveis!

Nas estradas principais, passava um carro de meia em meia hora! Presentemente, quase não há espaço para mais automóveis! É rara a casa que não tenha um ou mais carros! Tudo por aí está inundado de chapa!

O progresso atingiu o inimaginável.

É caso para perguntar:

Que nos reserva ainda o futuro?!


Manuel Rodrigues, Setembro de 2008

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

São Julião de Paços - Paróquia


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Nascida à sombra do Castelo de Penafiel de Bastuço, a paróquia de São Julião de Paços é hoje o resultado da fusão de São Julião de Paços com São Tomé da Serra ou São Veríssimo de Quintanela.
A documentação mais antiga sobre São Julião de Paços aparece sobretudo no Liber Fidei, estudado superiormente pelo prof. Dr. Avelino Jesus Costa que refere o primitivo nome da Paróquia que consta no Censual do séulo XI: De Sancto Juliano de Palácios (1958. 76). Liber Fidei menciona ainda São Julião de Paços em 1018, uma freguesia com história e que foi vila. (a)
Em 1045 localiza-se o lugar da Serra, da freguesia de São Julião de Paços (…) in território bracarense in villa nuncupata Quintanela ad radice montis Bastucio(…) (LF.73).
Conforme pesquisas feitas pelo Senhor Padre Doutor António Franquelim S. Neiva Soares, a freguesia de São Veríssimo de Quintanela assim denominada até 1073, em 1290, chamava-se São Veríssimo de Paços e, em 1320, São Veríssimo da Serra. Em 1372 aparece também com orago diferente: São Tomé da Serra. Desde 1442 aparece sempre anexada a S. Julião de Paços, o que implicou uma subalternização, com arruinamento progressivo da sua igreja, que veio a ser demolida em 1886 para se aproveitar a sua pedra na construção da actual
sacristia da igreja paroquial.
Em 1220, com as inquirições de Afonso II, foi denominada São Julião de Sequeira.
Sabe-se que S. Julião em termos paroquiais foi uma abadia da apresentação da mitra, no termo de Barcelos.
Desconhecemos em que fundamentos se basea J.M.Cruz Pontes, professor da Universidade de Coimbra, para afirmar que em 1290 se designava “Parrochia Sancti Johanni de Paaccos”!?
Sabemos pela tradição oral, por vestígios encontrados e conforme nos relatou o Senhor Avelino Rodrigues (“Avelino do passal”) actual proprietário duma grande parte dos terrenos do antigo passal, que ali existiu uma igreja no centro desses terrenos da paróquia e, que depois do derrube da monarquia (1910), os republicanos “progressistas”, com a conivência de alguns dos seus lacaios cá de São Julião nos roubaram esse património, uma área superior a 10 hectares de terreno de cultivo!
Não terá sido ali a igreja de que nos fala Cruz Pontes, de “Sancti Johanni de Paacos, a que se localizava nos terrenos do antigo passal?
Para além da Igreja de São Tomé da Serra e da igreja existente no centro do antigo passal da freguesia, alguém nos referiu uma igreja-capela dedicada a santa Cecília, localizada na zona das Moelas, ali no sopé do Castelo da Pena ou Penedo do Castelo. Pedras desse templo ainda por ali eram vistas há poucos anos. A imagem de Santa Cecília, já muito degradada, foi oferecida ao Senhor Padre Mário, antigo pároco da freguesia, pela casa da Fonte, de Bastuço, conforme nos contou o Senhor Costa, um dos herdeiros dessa casa.
Fala-se ainda de que no lugar de Vila Pouca havia uma capela dedicada a São Pedro, onde há pouco tempo ali foram encontradas pedras que dizem ser ruínas dessa capela. Uma linda imagem de S. Pedro, encontra-se
na igreja paroquial.
Talvez o crescimento populacional por razões de proximidade à cidade de Braga, se tivesse vindo a deslocar mais para nascente, dando origem a que a construção da igreja paroquial fosse implantada no centro já mais povoado.
Como acima se refere, a falta de culto, na igreja São Tomé da Serra, levou-a à sua ruína.
Em 26 de Março de 1979, nos terrenos onde esteve implantada a
igreja de S. Veríssimo, descobriu-se uma necrópole cristã, onde apareceu uma tampa sepulcral com uma inscrição terminada em "IN E(RA)MLXXV, equivalente a 1047. Foi trazida para junto da igreja paroquial, onde se encontra.
Na casa da Pedreira, ex-proprietária desses terrenos, existia um lindo altar e bastante valioso, que se dizia ter sido dessa igreja. A imagem de São Tomé da Serra, encontra-se na actual igreja paroquial.
A Igreja actual:
Na parte superior do arco principal, no interior da igreja, tem a data de 1779.
Pode observar-se claramente que a capela-mor, apresenta detalhes de uma construção mais rica do que na outra parte corpo do templo.
A tribuna, em talha renascensa/barroco (?), superiormente trabalhada, tem ao centro um riquíssimo trono!
Afirma-se que foi trazida do mosteiro da Senhora da Abadia por volta do ano 1775, transportada em carros puxados por várias juntas de bois e aplicada nesta igreja.
O frontal do altar-mor, em talha mais fina, dourada, é muito bonito;
O sacrário e partes laterais, foram bastante melhorados no tempo do Senhor Padre Mário, nos anos 70, altura em que também mandou fazer um altar e um ambão com linda talha do mesmo estilo.
As janelas, são adornadas com bonitas sanéfas em talha dourada;
As cornijas interiores, de pedra branca lavrada, em forma de papo de rola e meia cana.
O arco central da igreja, em pedra de galho, separa a capela-mor da outra parte do templo que, embora bastante mais amplo, é artisticamente mais pobre: tem uma cornija de madeira; os altares, adaptados, apresentam alguns bocados com talha pintada, mas com pouco gosto; as sanefas são vulgares e não têm a beleza das da capela-mor; os púlpitos, um de cada lado, embelezavam muito os lados laterais do interior da igreja. Foram dali retirados, toda a gente pergunta: porquê?! Sabemos que estão arrumados no sótão do centro paroquial, certamente sujeitos a uma maior e constante degradação! É urgente que voltem ao seu lugar, que só pode ser, em cima dos lindos suportes feitos para eles, em pedra tão bem trabalhada.(b)
Por baixo da tribuna dizia-se ser a sacristia “velha”, que passou a ser sala de arrumação, quando se construiu a sacristia actual, datada de 1867, diz-se ter sido edificada com pedras da desaparecida igreja de São Tomé da Serra.
A parte exterior da igreja tem uma frente simples, muito elegante e agradável de se ver: a porta principal é sobrepujada por um lindo frontão. Por cima tem uma janela com muita beleza! A empena da igreja é encimada por uma bonita cruz.
Até 1949 existiu um torreão com duas sineiras. O acesso aos sinos era feito por umas escadas exteriores, com um pátio a meio, onde se situava a porta de entrada para o coro da igreja.
Continuavam as escadas até aos sinos, resguardadas por grades e um portão de ferro forjado.
O torreão foi demolido em 1949, para dar lugar à nova torre, construída no tempo do Senhor padre João da Costa, pelo mestre construtor, Senhor João Morgado, do lugar do Porto de Martim.
A nova torre, de trinta metros de altura, com três pisos, está adoçada à fachada principal da igreja e foi inaugurada no ano de 1952.
Os dois sinos do antigo torreão já não existem.
Em 1962, uma faísca caiu sobre o sino grande, estalando-o, o que fez com que perdesse todo o som imperial que tinha. Foram substituídos por outros dois novos sinos, mas o toque destes, está longe de se igualar ao dos antigos.
Depois deste incidente foi colocado um pára-raios, para prevenir casos semelhantes.
A torre tem actualmente cinco sinos: dois com data de 1952, dois datados de 1962 e um com data de 1993.
A nova torre é dotada de um bom relógio mecânico de Corda, mais tarde electrificado, sinaliza as horas e as meias horas, é da autoria dum técnico da freguesia de Padim da Graça-Braga, que na mesma altura fez outro relógio do género, para a Basílica de Fátima.
(a)-O termo "vila" não tinha o sentido que se lhe atribui actualmente. Hoje uma vila terá que ser uma povoação de maior ou menor dimensão, mas com estruturas capazes até para ser concelho. Antigamente dava-se o nome de vila a uma área mais ou menos extensa de terrenos de um só proprietário.
(b)-Os púlpitos foram retirados no tempo do senhor padre Henrique, há cerca de dez anos.
 O padre Henrique paroquiou esta freguesia desde 1980 até Setembro de 2013, altura em que deixou de ser o pároco, sucedendo-lhe o senhor padre Manuel Pinheiro que entendeu, e bem, recolocar no devido lugar os púlpitos, o que veio a acontecer em Agosto do corrente ano, facto que muito alegrou a freguesia. As imagens da Santíssima Trindade também voltaram ao seu lugar, no trono da tribuna. Um bem haja ao senhor padre Pinheiro.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

São Julião de Paços - Histórico

A freguesia de São Julião de Paços, tal como hoje existe, é o resultado da sua fusão com São Tomé da Serra, também denominada de São Veríssimo de Quintanela .
Pinho Leal no seu “Portugal Antigo e Moderno”, classifica-a como “uma das mais antigas freguesias do Minho”, situada abaixo do Monte de Bastucio/Bastuço e na encosta do rio Laviorto/Labriosque.
A documentação mais antiga sobre São Julião de Paços, aparece sobretudo no Liber Fidei, estudado superiormente pelo prof. Dr. Avelino Jesus Costa que refere o nome primitivo e que consta no Censual do século XI, de Sancto Juliano de Palácios (1958. 76). Liber Fidei menciona ainda São Julião de Paços, também chamada São Julião de Sequeira em 1018.
Em 1045, localiza-se o lugar da Serra que, juntamente com o lugar do Ferreiro, (hoje lugar da Machada), formavam a extinta paróquia de São Tomé, anexada à de São Julião de Paços, no ano de 1442, conforme pesquisa do historiador Senhor Padre Dr. António Franquelim S. Neiva Soares, que amavelmente a nosso pedido,graciosamente e de forma empenhada e exaustiva, esmiuçou tudo o que se tornou possível saber sobre São Julião de Paços e a sua origem!
Através dele soubemos que a capela se São Tomé da Serra, foi demolida no ano de 1886, sendo aproveitadas as pedras para a construção da actual sacristia da igreja paroquial.
Nos terrenos da antiga capela de São Tomé, em 26 de Março de 1979, foi encontrada uma necrópole cristã, onde apareceu uma tampa sepulcral com a inscrição terminada em "IN E (RA) MLXXV, equivalente a 1047. Foi colocada junto da igreja paroquial, onde se encontra. .
Com as inquirições de Afonso II, a extensão territorial do seu domínio, consta entre as vinte e cinco freguesias, como São Julião de Sequeira.
A nível administrativo, São Julião de Paços passou para o concelho de Braga em Outubro de 1853.
Importa referir que em nenhum documento foi encontrado o nome PaSSos, mas sempre PaÇos, impondo-se a necessária rectificação, para ficar compatível com a história.

O texto supra, não passa dum resumo histórico dos primórdios desta linda terra de São Julião de Paços, que se deve ir preparando para, no ano 2018, com toda a solenidade possível, festejar um milénio de existência!
Obviamente que nestes quase mil anos, muitas e muitas coisas aconteceram, dignas de registo, mas que se foram perdendo no tempo.
Quantas gerações terão vivido nesta terra num milénio?! Quantos filhos desta terra contribuíram com o seu trabalho, o seu saber e a sua dedicação para que hoje tivessemos as condições de que desfrutamos?!
Os livros não nos relatam muito desse passado mais distante! O saber, passava pela tradição e de pais para filhos .
No meu tempo de criança, como era agradável, depois da ceia, ouvir os mais velhos contar lindas histórias e lendas junto da lareira ao pé da fogueira! Nada escapava aos mais novos que gravavam tudo na memória, para depois serem eles que transmitiam aos vindouros.
As histórias começavam quase sempre: contava o meu avozinho que em tal sítio, em tal terra ou lugar, passou-se isto e aquilo.....-! Muitas histórias, contos, lendas e mais lendas!!! Tudo mudou! Que pena!
Hoje já não existem condições para essas conversas ao pé da fogueira! O progresso traz consigo coisas muito boas, mas destrói riquezas que nada as podem compensar!
Com as televisões permanentemente ligadas e outras ocupações, como se pode arranjar tempo para reunir as pessoas proporcionando o diálogo?
Ainda bem que as novas tecnologias facilitam para que no futuro possamos ter alguns registos do pouco que nos foi possível aprender dos antigos. Daí ser importante que haja alguém que, junto dos mais idosos, pesquise o mais possível dessas memórias e as registe, para que não se verifique uma maior perda de tão interessante saber acumulado, vivido pelos nossos antepassados.




Manuel Rodrigues, Agosto de 2008

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Canção da Vida

Vem, vem, diz sim à vida
Vem, vem, diz não à morte.

A semente que lançada num jardim,
Quer nascer, quer crescer e quer florir!
Não mateis essa semente que tem vida,
E deixai, ela se tornará crescida,
E vereis a natureza a sorrir!

Vão matar quem tem direito a nascer!?
Ninguém pode estar calado ou indiferente!
Dizei não à tirania dos Herodes,
Com a cruz que vais fazer ainda podes,
Pôr travão à matança de inocentes!

Matar? Oh! Isso não é permitido,
Porque a vida é puro Dom do criador!
Quem é o homem, miserável, que loucura,
Para impedir que nasça nova criatura,
Que já existe, e foi gerada por amor?

Ao aborto, dirás não. Porque é matar!
E aos tiranos que defendem essa sorte,
Nós dizemos: nós defendemos a vida,
E a mãe, que seja sempre protegida!
Será feliz, quem não provocar a morte.

Manuel Rodrigues, Junho de 1998

sábado, 19 de julho de 2008

Memórias de São Julião-"Letras e Artes"

Letras:
No início de sec.XX, novos horizontes se começaram a abrir para São Julião, com a criação do ensino primário.
Nesse tempo, não dispunha a freguesia de edifício escolar, tendo a casa de Balteito, no lugar do Outeiro, cedido uma sala para acolher e ensinar, aqueles quisessem aprender a ler e escrever.
Não sei como era dantes, apenas me tenham referenciado uma senhora que morava na ilha,(?) ali para os lados do Porto de Martim, e que, particularmente, ensinava a um ou outro umas letras! É um facto porém que, mesmo depois das condições criadas, poucas crianças frequentavam! O ensino não era obrigatório, e pouco habitual aprender a ler, porque era preciso trabalhar! A escola, não fazia falta! Então para as raparigas, é que nem pensar, porque para elas não era necessário saber ler e escrever!
Com essa mentalidade, poucos alunos frequentavam a escola. Desses poucos, alguns, só faziam a 1ª classe; menos ainda a 2ª, e um número muito restrito concluía a 3ª, sendo muito raros os que completavam a 4ª classe, e esses, eram tidos já como uns letrados!
Diziam as pessoas mais idosas, que por essa escola do Outeiro, passaram: a Dona Branca, excelente professora, contrastando com a professora Palmira, que se preocupava pouco em ensinar, e por isso, não deixou tão boa fama!
No meio dessas dificuldades, houve mesmo assim nesses tempos, alguém que conseguiu subir bem alto: o Dr. José Machado, da casa do Souto, que se formou em medicina, vindo a tornar-se um médico de fama. Mercê da sua competência, foi durante muitos anos, Director do Centro de Saúde de Barcelos.
Outro filho desta terra, o Dr. José Maria Ferreira de Araújo, da casa de Fijô, que foi vice-presidente da Câmara Municipal de Braga.
Formaram-se ainda professores primários: o Sr. Isaías e Torcato Machado, da casa do Souto. O professor Isaías foi durante vários anos, adjunto escolar de Braga, e o Sr. Torcato que, depois de uns tempos a ensinar, passou para contabilista duma empresa.
Falava-se ainda do professor Vilaça, que morou no Outeiro, onde vive hoje o “mana”, mas nunca soube qual o grau académico que possuía.Nesse tempo, havia o professor regente, que podia ser desempenhado por quem tivesse a 4ª classe, como a Dª. Rosa Miranda, que também foi professora regente.
Por volta dos anos trinta, foi construído o primeiro edifício escolar oficial de São Julião de Passos, num terreno doado pela casa de Balteiro, no lugar do Outeiro, cá em cima, em frente à casa do Evaristo. Nesse edifício funcionou a escola durante quase quatro décadas e por ali passaram centenas de jovens, de São Julião, de Bastuço e de Martim, com muitos a concluir já, a quarta classe.
A Dª. Maria Augusta Malheiro Silva Domingues, de Braga, foi professora única das quatro classes, durante trinta e tais anos! Ali ensinou avós, filhos e netos.
No ano de 1960, foi inaugurado o edifício da escola primária do Redondal. Já dotado de melhores condições, com três salas, permitiu que um professor, desse aulas a uma só classe, tornando assim melhor, a qualidade do ensino.
Entretanto, a escolaridade tornou-se obrigatória, verificando-se a partir daí, um grande fluxo de alunos para o ensino médio e superior.Uns frequentando os liceus, outros a escola comercial e Industrial, os colégios, seminários e, concluído o 7º ano liceal, quem pudesse e quisesse, ia para a universidade tirar um curso superior.
O ensino técnico-profissional nocturno também começou a funcionar nessa altura. Em horário pós-laboral, foi frequentado por muitos alunos, bastantes desta freguesia, nos cursos de: Electricista, Serralheiro, carpinteiro/marceneiro, curso geral do comércio, etc.. Estes cursos, permitiam o acesso ao ensino superior, nos cursos de engenharia.
Também foi criada a telescola, com aulas dadas através da televisão, com acompanhamento dos alunos por uma professora, na escola do Redondal!
Já na década de 70, dois cidadãos desta terra, formaram a escola de adultos, que funcionou na sacristia da igreja paroquial, durante alguns meses. Depois de oficializado o ensino, passou para a escola do Redondal e orientado por uma professora especializada. Várias pessoas adultas aprenderam a ler e escrever, e cerca de uma dezena fizeram a quarta classe.
Foi, de facto, uma revolução enorme no campo das letras!
São Julião, evoluiu de tal forma que, a nível de freguesias rurais, chegou a ter o maior índice estudantil no concelho de Braga!
Como curiosidade apenas, dar nota que, por essa altura, cerca de trinta jovens de São Julião frequentaram os seminários. Embora nenhum deles tivesse chegado ao grau de “ordenado”, quase todos porém, tiraram o seu curso e, são hoje indubitavelmente, cidadãos prestigiados e muito úteis à sociedade!
De referir ainda que, apesar de não ter sido seminarista, tem São Julião um dos oito diáconos permanentes da Diocese de Braga. São actualmente, os Diáconos: Elísio Portela, natural do Porto; José Maria Araújo, de Amares; Albino Correia, da Póvoa de Varzim; João Ferreira de Guimarães; Carlos Esteves, de Melgaço; Lino Campos, de Barcelos; Manuel Monteiro, de Fafe e Manuel Rodrigues, de Braga.

Artes:

São Julião, chegou a ter uma indústria razoável, com destaque para a marcenaria.
Na arte com menos “arte”, se assim se pode dizer, nas décadas 50 e 60, fabricava-se cá, de madeira de eucalipto, muita mobília de quarto e de cozinha, em indústrias caseiras: do Sr. João da Breia, junto à Igreja; Sr. Domingos Bacorinho, ao pé do cruzeiro; Sr Evaristo, em frente à antiga escola “velha”; e o Sr. José Teixeiro, também ao pé do cruzeiro.
Todas as terças feiras de madrugada, vinham os carreteiros, levar a “obra” para ser vendida na feira de Braga: O Ramalho e o Morgado de Cabreiros. Enchendo os carros até mais não poder, puxados por boas juntas de bois, transportavam as mobílias para a cidade.
É muito antiga a fábrica de serração, no lugar da Serra, ainda hoje existente e, de cujo proprietário eram também os moinhos de farinha, movidos pelas águas do rio “Labriosque”, bem como os lagares de azeite.
No lugar da Serra funcionou também uma oficina que fabricava a parte de madeira das balanças decimais.
Também o lugar da Pedreira tinha moinhos de farinha movidos pelas águas do Labriosque, cujos edifícios ainda lá existem .
No monte de cima havia ainda um moinho de vento, também de moer farinha. Ainda há poucos anos foi destruído. Foi pena, porque muita gente ia até ao local vê-lo e apreciar a linda panorâmica que aquele lugar oferece.
No lugar da Bouça havia uma padaria, uma mercearia e tasca, tudo no mesmo edifício, propriedade da casa do Martinho. Era o centro comercial da freguesia;
No lugar do Monte do Porto, existiam dois ferreiros: um que tratava mais de ferramentas agrícolas, e outro que só fazia tachinha;
São Julião tinha bons carpinteiros: O Sr. Justino Pereira, junto à igreja, mestre de obras, com empregados por sua conta, tal como o mestre Manuel Viana, em Forcadelo;
o Sr. Benjamim do Bairro, no Lugar da Serra, o arquitecto dos arcos da festa de Maio, e o Sr Benjamim Fernandes, da Lardoeira, ambos se dedicavam aos biscates nas casas dos lavradores, fazendo e consertando: Dornas, pipos, carros de bois, etc.
Com teares artesanais, tínhamos: a tia Ana Viana, mãe da Maria Faqueira, tia Arminda Fanada e tia Maria Rosa estrelada. Neles teciam mantas, passadeiras e tapetes, com tiras de trapos velhos. Na casa do Souto também havia um tear, mas de tecer o linho.
São Julião dispunha de muitos e bons artistas: serralheiros, alfaiates, pedreiros, trolhas, mineiros, cesteiros, etc.. Outras pessoas, ocupavam-se na lavoura.
O êxodo emigratório para França, Alemanha e outros países verificado nas décadas de 60/70, o envelhecimento das pessoas e o grande movimento de estudantes que explodiu nessa altura, veio alterar toda a estrutura existente, originando o desaparecimento de várias dessas artes.
Na verdadeira arte, realce para dois dos grandes talentos na área da música: Manuel Gonçalves e Adelino Pereira Gonçalves, Maestros de bandas musicais;
o Jerónimo, pintor de renome nacional e internacional, fez várias exposições de obras da sua autoria, pelo país, em França e no Brasil, et.;
o Padre Mário, pároco desta freguesia desde 1954 a 1980, homem de uma vasta cultura, especialista em Arqueologia, e História, editou o livro: “Lendas do penedo do Castelo” de Paços São Julião.
Realce-se desde já o escritor do nosso tempo, Agostinho Borges Gomes, editor de duas obras literárias de nível: “O Crime de uma sábia” e “Teoria Unificada das Teorias da Relatividade e Quântica”.

Manuel Rodrigues, Julho de 2008.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Voltou a moda!

Nos tempos idos, quando as pessoas deixavam de ser úteis, isto é, quando já não podiam trabalhar, “levavam-nas à bouça", para não darem incómodos e despesas aos filhos, que, por amor foram chamados à vida, e que tantos sacrifícios custaram aos pais, até ficarem criados!
Cabia ao filho mais velho, a tarefa de "levar o pai à bouça”, cujo "objectivo principal" era, verem-se livres do “estorvo”!
Pegava numa manta velha, um naco de broa, e levava o pobre do velho (a) ao meio dum monte, e lá o deixava, até que as feras o matassem e devorassem!
-Horrível, são capazes de dizer muitos, dos que hoje fazem coisa bem pior! Eu explico!
Conta-se que num desses casos, quando, já no sítio escolhido, o filho dava as últimas recomendações ao pai: “-pai, tem aqui broa para comer e uma manta para se agasalhar”! O pai diz para o filho: “-não se deve desperdiçar aquilo que tanto custou a ganhar! Meia manta, para mim chega! Corta esta a meio, e leva a outra, que dará para ti, quando o teu filho cá te vier trazer, dentro em breve”!
Aquelas palavras do pai, puseram o filho a pensar! Nunca tinha reflectido nisso! Já não sou novo, e, terei a mesma sorte do meu pai!?
Pensa melhor, e diz para o pai: “-o pai já não vai ficar aqui! Volta comigo para casa! Haverá sempre lugar para mais um, e uma malga de caldo para comer"! E lá volta com o pai para casa, acabando assim com a moda de “levar o pai a bouça"!

Considerada de “horrível” a moda de levar o “pai à bouça”, ela voltou, e de que maneira é posta em prática por “boa gente”, e até da alta sociedade!
Hoje, parece tudo normal, como normal seria naquele tempo “levar o pai à bouça”! Mas, parecendo, não é normal, sendo até profundamente injusto e cruel em muitos casos, quando o “objectivo principal”, é exactamente o mesmo de antigamente!
Quantos e quantos, passaram uma vida de trabalho e privações, preparando uma velhice mais calma e tranquila, e,em vez disso, sofrem agora a desilusão e a frustração do abandono?
Visito semanalmente, e conheço a realidade dos cerca de quinze lares de terceira idade que existem em Braga e não só, por isso, sei bem daquilo que falo!
Não está em causa a forma como as pessoas são tratadas nos lares! Há lares excelentes, embora nem todos, no que diz respeito a alimentação, limpeza, cuidados e tratamento em geral! Não são muitas as queixas dos idosos, nesse capítulo! O grande drama para eles, consiste no sentirem que foram "despachados" do seu cantinho, porque se tornaram num estorvo!
Custa-me imenso ouvi-los e vê-los chorar, a queixarem-se desse abandono a que são sujeitos pelas famílias!
Ainda no passado Sábado desabafava comigo uma vizinha de Sequeira, que tem dois filhos a morar na casa da mãe: “-estou p’ráqui abandonada, e a pagar 90 contos por mês! tanto gostava dos meus netinhos e quase nunca os vejo; o meu quartinho, muito gostava de lá estar! quem me dera lá; antes queria passar fome em casa, do que viver aqui no maior luxo do mundo! Enfim!
Lá recebem uma visita “de médico” de vez em quando dum ou outro familiar, ou pessoa amiga, que passam aqueles minutos a olhar vezes sem conta para o relógio e a dizer que são horas de ir embora, que tem umas voltas para dar e não tem mais tempo para estar ali! É "horrível"!
Que seria melhor para o pobre velho (a)? Haverá coisa pior que viver em angústia permanente longas horas, dias, meses e até anos!?
Para ver se calam a consciência, ouvimos dizer às vezes: só custa mais nos primeiros dias, depois não custa nada!(não custa a quem o diz!) Em casa não há condições, não temos quem olhe por ele (a), é difícil dar-lhe as voltas, aqui até estão bem! Pois estão, não têm outro remédio! Se tivessem, quantos não sairiam de lá!?
Razões, todos podem arranjar as que bem quiserem, umas mais justas, outras menos! Mas,em muitos casos, se não faltasse o AMOR e não existisse o maldito comodismo egoísta, garanto que mais de metade dos lares deixariam de ser necessários!
A solução para muitos, poderia passar pela criação de centros de dia em cada freguesia, para não os desenraizar da sua terra! Seria um mal menor!
Há que pensar nisso. Doutro modo, convém ir preparando a outra metade da manta, porque dentro em breve, será precisa para te "levar a ti à bouça"!
Importa referir que muitos e muitos idosos, ainda têm a sorte de terminar os seus dias junto dos familiares. Felizmente para eles, e também para as comunidades onde se inserem, porque um idoso, é sempre uma referencia para as pessoas mais novas!
Tenhamos em apreço que as suas famílias, terão necessariamente que ser generosas e compreensivas, quando se trata de pessoas com limitações, o que as tornam por vezes rabugentas e incomodativas, mas, a satisfação de ter a presença de quem se ama e a consciência do dever cumprido, compensarão largamente o incomodo e o trabalho que possam dar. E, como muito bem ouvimos dizer, DEUS NÃO DORME! Quem bem fizer, bem receberá!

Manuel Rodrigues, Julho de 2008

terça-feira, 15 de julho de 2008

As pequenas, grandes coisas

Nos meus tempos de adolescente, era frequente aparecerem nas mãos, nos pés e mesmo noutras partes do corpo, pequenas saliências conhecidas por cravos ou sinais, que, em muitos casos, provocavam incómodos e mal-estar. Quando espigavam, era mesmo doloroso, e, para quem os tinha no rosto, era muito aborrecido! Então nos homens, tornava-se um caso sério, porque ao rapar a barba, facilmente se cortavam, e o sangue não vedava com facilidade!
Não tenho reparado, se esses sinais ainda surgem com frequência, ou não. No meu tempo, muita gente tinha esse problema.
Dizia-se nessa altura, que os cravos apareciam, porque se contavam as estrelas do céu e, quantas mais se contassem, mais cravos apareciam! Não creio mas, uma coisa é certa: os cravos, eram uma realidade bem visível. Outra realidade era que os miúdos, a fazer contas ninguém os batia! Será que as dificuldades que se verificam na disciplina de matemática e as consequentes negas, estarão relacionadas com a não contagem das estrelas pelos jovens de hoje? (para rir!)
Antigamente nas aldeias não havia luz pública, o que tornava a noite mais escura, realçando o brilho das estrelas no céu, dando gozo olhá-las e contá-las! Era uma realidade. As várias constelações, nomeadamente a Via-Lactea ou estrada de São Tiago, distinguia-se bem, nas noites de verão! Hoje nem por isso.
A luz pública veio alterar as coisas! Dá para ver melhor a terra na noite, mas, com a claridade, as estrelas no céu quase não se vêm! Mas, mesmo que fossem bem visíveis como dantes, a canalhada de hoje, essa, nem reparava nelas, porque passam o tempo a olhar e a clicar no telemóvel, de dia e de noite, sem tempo para olhar o céu! É uma terrível doença dos tempos modernos, penso eu!
Vem a propósito, para que, se houver alguém entendido na matéria que me possa esclarecer, muito agradeço.

Vou narrar dois factos, constatados por mim.

Primeiro:

O senhor José da Devêza, meu conterrâneo, homem já dos seus setenta e tais anos, agricultor, aos sábados ia ao barbeiro, “rapar” a barba.
Este senhor, tinha três grandes cravos na cara, tornando-se muito difícil ao barbeiro cortar-lhe a barba, sem tocar nos cravos com a navalha e o pôr a sangrar, o que se tornava muito aborrecido, porque o sangue dos cravos, era difícil de vedar!
Por três vezes, foi ele ao Hospital de São Marcos de Braga "queima-los", mas voltavam a crescer.
Um dia, o barbeiro diz-lhe: - Senhor José: porque não reza ao São Bentinho, para lhe tirar os cravos? O homem responde: -ora , ora! Achas que o São Bento está agora para ouvir este velho? Ele não perde tempo comigo! Diz-lhe o barbeiro: -peça-lhe, e depois mo dirá!
Aceitou o conselho e,na verdade, passado algum tempo o senhor José, repara que já não tem os cravos! No dia de São Bento,11 de Julho, no início da tarde, vai ao barbeiro para "fazer" a barba. Todo contente, diz: -Paulino, vou ao São Bentinho! Os meus cravos já desapareceram, e foi ele quem mos tirou! Eu bem lhe dizia, -diz-lhe o barbeiro! São Bento só não atende, a quem não lhe pede!
Com a barba cortada, põe-se a caminho, muito feliz, e lá ruma ao São Bento,para lhe agradecer o milagre!
Lembro-me, como se fosse hoje!

Segundo

Quando eu era ainda muito novo, fiquei com as mãos e os pés, cheios de cravos.
A minha mãe, disse-me: -reza ao São Bentinho para te tirar esses cravos! Comecei a rezar e fiz uma promessa: se ele me tirasse os cravos, levava-lhe uma dúzia de ovos. Tempos depois, não sei explicar como, os cravos desapareceram todos!
Pensei logo no cumprimento da promessa! Nas vésperas da festa, fui pelos vizinhos pedir ovos até completar a dúzia, e no dia da festa, lá fui levá-los.
Caminhando a pé, cerca de 12 quilómetros reparei, ainda a caminho, que algum ovo teria estalado, porque a saca estava humedecida. Ao mudar a saca de uma mão para a outra, com os movimentos, era fácil que acontecesse!
Dentro da igreja, ao pé do andor, estavam vários cestos cheios de ovos e imensos ramos de cravos, que os devotos do São Bento já tinham lá deixado.
Embora eu tivesse notado a saca molhada, coloquei-a com os ovos num cesto! Cumprida a promessa,assim pensei eu, voltei para casa.
Passados uns tempos, vejo que numa das minhas mãos, tinham aparecido novamente, dois ou três cravos! Deu-me que pensar! Seria por lá ter deixado algum ovo partido? Não sei! Só sei que, já depois de ter feito a tropa, recorri novamente ao santo, e prometi que se aqueles cravos me saíssem da mão, pediria um ovo á pessoa que mais me custasse e o levaria ao São Bento. Eficaz! Os cravos saíram em poucos dias, para nunca mais os ver. Pedi um ovo como prometi, e lá fui levá-lo, cumprindo a minha promessa!

Banalidades? Se sim, porque foi então, três vezes o homem tirá-los ao hospital,e os cravos apareceram novamente? Como se explica o desaparecimento em definitivo, só com o pedido a São Bento?
No meu caso concreto, os dois ou três cravos reaparecidos na minha mão,nela estiveram durante vários anos. Quando regressei da tropa, voltei a pedir ao santo, e os cravos desapareceram para não voltarem mais!
Sou crente, e sei que Deus tudo pode! Os santos, intercedem por nós junto de Deus, e a prova é que, imensas pessoas rumam até aos santuários do São Bento da Várzea ou da Porta-Aberta! O santo é o mesmo, e venerado em muitos outros lugares espalhados por toda a terra, pois São Bento, até é, o padroeiro da Europa!
Os milagres acontecem também através doutros santos, e de modo especial, por intermédio da Mãe de Jesus e nossa Mãe! Basta dar Fátima como exemplo!


Manuel Rodrigues, Julho de 2008

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Os tempos mudaram

Recordar os tempos de criança e da juventude, faz com que olhemos para esse passado com certa nostalgia e saudade, apesar de, não ter sido fácil ultrapassar as muitas dificuldades que existiam nesse tempo!
Não é possível comparar o viver de então, com o viver de hoje!
Nas famílias, normalmente numerosas, sentia-se o amor entre todos os seus membros. A veneração, o respeito e a obediência aos pais, era regra quase geral. Os irmãos mais velhos, na sua ausência, assumiam a autoridade e o governo da casa, e como tal, respeitados pelos irmãos mais novos!
Os avós, os tios, e as outras pessoas mais idosas, mereciam o respeito e carinho de todos! Familiares ou não, traziam consigo a escola da vida, aproveitada para servir de exemplo pelos mais novos, que bem sabiam aceitar e agradecer! Hoje, também é assim?
Os pais, educavam os filhos desde pequeninos para os verdadeiros valores, e cedo os ensinavam a trabalhar, dando-lhes tarefas ao seu alcance para se começarem a treinar para a vida, sobrando pouco tempo para brincar.
As brincadeiras desses tempos, nada têm a ver com as diversões de hoje!
Os brinquedos, cada um fazia os seus:
As meninas, faziam as suas bonecas de trapos; jogavam a macaca; de mãos dadas andavam à roda, a cantar as modas da época: a machadinha, ó lindinha; eu sou rica, rica, rica, do marré, marré, marré..; a roda do mel,o jogo do lencinho, e outras lindas modas!
Muito lindos eram os romeirinhos! Formados com vários pares de meninas, de velas e ramos na mão, caminhando a pé, cantando em grupo, para cumprir uma promessa! E que bem que cantavam! -“Ó meu São Bentinho e nós aqui vamos, estes romeirinhos, de velas e ramos….”! Quem fazia a promessa, acompanhava o grupo, levando um merendeiro para as cantoras comerem, após cumprida a promessa.
Em momentos de aflição, as pessoas de fé, rezavam, pedindo a ajuda divina, faziam as suas promessas. Os romeiros, era uma das formas de agradecer as graças recebidas!
Faziam-se romeirinhos: ao São Bentinho, à Senhora de Lurdes, à Senhora do Livramento, Senhora do Sameiro, e outros! Que pena terem acabado! Não só porque era lindo, mas, pior que isso, revela a falta de fé no poder infinito de Deus, único que pode curar e sarar! Hoje, há muitos e bons médicos; muitos e bons remédios; óptimos hospitais! Porque morre tanta gente, muita ainda tão nova? Explicações, podem querer arranja-las, mas, Deus será sempre o Senhor da saúde e da doença, da vida e da morte!
Porque não recorrer a Ele, mesmo através dos santos, como noutros tempos se fazia, pedindo a recuperação da saúde? Nenhum médico, por melhor que seja, nada pode fazer sem que Deus o permita! Ele, é que é o Senhor, a Origem de tudo! Muito se engana quem pensa que pode prescindir d'Ele, ou ignorá-Lo!
Que poder tem qualquer humano para contrariar a natureza, dizendo: não quero que chova, não quero adoecer, não quero morrer,etc.,que o consiga?
Quantos, ditos intelectuais teimaram, e ainda hoje os há,(pobrezinhos), que ousam continuar a "recalcitrar contra o aguilhão"? Que ganham com isso? É só loucura! Quando o Supremo determinar, por mais poderoso que alguém pense ser, não tem alternativa! chegada a hora, parte, como todos sem excepção, ao encontro de Deus que o criou e lhe deu a vida, a quem terá que dar contas, do bem e do mal que praticou na terra, queira ou não queira! Isso, ultrapassa o crer e o querer ou não de cada um.

Os rapazes, também tinham os seus brinquedos. Faziam suas “motas”, tipo triciclo ou mesmo de quatro rodas, feitas à foice! E era assim! Quem quisesse ter brinquedos, tinha que os fazer! E que bem! Apesar de toscos, dava-se-lhe valor, porque eram o fruto do esforço e do talento pessoal!
Havia o jogo do pião, o jogo do botão, (o cuche, o pique, da covinha,) o espeto, o jogo da bola; com os olhos vendados, era giro ver o enfiar da rosca,e a quebra do cântaro! Faziam-se corridas: do saco, do passo de coelho,e as “corridas a pé”! Tudo era diferente mas, em termos pedagógicos, muito melhor que é hoje!
Construindo os próprios brinquedos, desde novo se começava a desenvolver um espírito criativo e empreendedor, que viria a ter reflexos muito positivos no futuro!
Que constroem as crianças e os jovens de hoje?
Nada! Tudo é comprado pronto a usar! Brinquedos e mais brinquedos, sobrando apenas,o tempo para desfazer aquilo que se lhes dá! Podemos facilmente constatar isso! Se só se aprende a destruir, é lícito perguntar: Como será a sociedade do futuro?
É imperioso e urgente repensar novas formas de educar!
É preciso dar oportunidade e espaço às crianças para que possam desenvolver as suas capacidades, e, desde novos, começarem a saber ocupar o tempo em coisas construtivas!
Quais serão as causas do pouco desenvolvimento intelectual, e atrofiamento mental de muitos jovens de hoje? O insucesso nos estudos, não será uma consequência do pouco treino da imaginação? “De pequenino se torce o pepino”! Se não exercitam a mente na fase de menos idade, o raciocínio fica estagnado, e nunca mais dão nada na vida! Vemos tantos jovens por aí inúteis, constituindo um peso para a sociedade!Será só culpa deles?
Noutros tempos havia fome, mas a necessidade obrigava o sujeito a descobrir as formas de sobreviver honestamente! Aos cinco anos, já todos se defendiam! O rapaz ia olhar pelo gado na casa dum lavrador, mesmo que fosse só pela comida, ou então, ia ao monte ás pinhas, ou buscar molhos de lenha, para se cozinhar em casa!
As raparigas, cedo iam servir como empregadas domésticas! Hoje, ninguém quer trabalhar! Não faltam mandriões por aí, a viver à custa do suor dos pais, e até do alheio! Mas, reparem no paradoxo: Não é permitido trabalhar antes dos dezoito anos! Então, se calhar, a culpa até nem é dos jovens! Se a Lei os proíbe de trabalhar, alguém terá que os manter, porque a barriga não faz greve! Dá para pensar!
“Engolindo o garfo” em novo, como se dizia naquele tempo, como poderá depois mais velho vergar a mola? (Engolir o garfo, era andar sempre de costa direita)!
È mesmo urgente repensar a forma como se processa a (des)educação!

No tempo da minha juventude, Maio e Junho era o tempo das festas.
Nesta terra, faziam-se festas em quase todos os lugares!
Era lindo ver os rapazes e as raparigas empenhados em fazer a festa mais bonita: No Monte do Porto, na Pedreira, em Belide, etc..
A Festa do Monte do Porto, no mês de Maio, à Senhora de Fátima e ao Coração de Jesus, tinha tal brilhantismo, que chegou a ser tida como a outra festa da freguesia!
A tribuna, era nas escadas do Manuel Rainha! Coberta com um grande toldo, adornada com várias imagens de santos, velas e muitas flores. Os andores chegaram a ser como os da festa da paróquia, feitos pelo “Pinto”, armador de Cabreiros.
Na frente da “capela”, erguia-se um grande e lindo arco, todo colorido, coberto com listas de papel de seda; nas margens do caminho, um bonito arruado! As moças, faziam grandes e belos e tapetes de flores, ao longo do caminho, por onde ia passar a procissão.
No Sábado à noite,havia uma procissão de velas. Saía da “capela”com o andor da Senhora, acompanhado pelos festeiros e muitas pessoas de vela acesa na mão,acompanhando e recitando o terço cantado! Percorria os lugares da Bouça, da Igreja e recolhia novamente ao Monte do Porto. No final da procissão, um lindo arraial com musica e danças e, pela meia-noite, uma cessão de fogo-de-artifício!
No Domingo, da parte de tarde, tinha lugar a grande procissão, com vários andores! Um “padre” improvisado, com uma saia branca a servir de sobrepeliz, fazia um sermão e dirigia a festa. À frente da procissão iam lindas bandeiras e anjinhos, depois os andores e, logo atrás, todo mundo cantando, entoavam cânticos a Nossa Senhora! O itinerário, era o mesmo da procissão de velas. Recolhida a procissão, realizava-se um bazar, com segredos oferecidos pelas mordomas, leiloados, disputados e comprados pelos rapazes, candidatos a namorados delas!
Que pena não haver hoje nada disso! Há muita razão, para ter saudades desses inesquecíveis,lindos e belos tempos! Acreditem! Era mesmo assim.
Na Pedreira e Belide, em Junho, faziamam-se as cascatas dos santos populares:-Santo António, São João e São Pedro. Não podia haver coisa mais linda! Correntes de água cristalina, deslizavam em rêgo, por entre os santos colocados dentro da cascata, feita com ramagens frondosas, a fazer de paredes da capela! Lindo,lindo!.
Os tempos mudaram! Neste capítulo específico, melhor fora, que nunca tivessem mudado!

Manuel Rodrigues, Junho/2008

A Maria e a Mariquinhas

Casos como estes, podem acontecer, em qualquer sítio porque em qualquer lado há gente para tudo.
É fácil encontrar pessoas que, egoisticamente, vivem só para si, mas há, felizmente, muitas outras que se dedicam generosamente ao serviço dos que vivem em necessidade, ao serviço do próximo!

Esta história, fala-nos de duas senhoras que viveram algures por estes lados. Uma, a Maria, mulher humilde e pobre; a outra, Maria também, mas chamavam-lhe dona Mariquinhas, porque tinha muitos haveres!

Maria, a pobre, o tempo dava-lhe para tudo! A sua casa, sempre muito bem orientada. Ajudava quem dela necessitasse. Qualquer dificuldade nos vizinhos, lá aparecia a Maria, disponível para o que fosse preciso: numa doença ou outra dificuldade, nas lides do campo ou noutras tarefas, sempre podiam contar com ela, e fazia-o da melhor vontade. Na igreja, estava em todas: zelar os altares; no grupo coral; na catequese, o tempo e o querer, nunca lhe faltavam!

Por sua vez a mariquinhas, não tinha tempo para nada! Não se podia levantar cedo, porque ficava mal disposta todo o dia! Ver novelas, era com ela! Não perdia nenhuma, para na conversa com as amigas, mostrar que estava dentro do assunto! Impossível, era faltar um dia que fosse, ao encontro com as colegas, ao chá das quatro (chá frio)! Era obrigatório, mesmo que não tivesse tempo para mais nada!

Ao fim do dia, chegava o marido a casa, cansado do trabalho, mas, lá tinha que se dispor a ouvir as queixinhas do costume: estou tão mal disposta, sinto-me tão cansada, a vida é muito dura, estou a ficar cansada, não aguento mais!
-“-Tens razão! A vida não é fácil para ninguém! Há apenas uma diferença: uns, aproveitam o tempo, outros desperdiçam-no! E quem nada faz, é sempre quem mais se queixa”!
Raramente quem trabalha com gosto, tem tempo para se lamentar. Muitos, dizem até: “-para fazer tudo aquilo que queria hoje, precisava que o dia tivesse mais umas horas”!
Para quem nada faz e depois descansa, a vida é sempre difícil, muito aborrecida, e até frustrante!

Mas o tempo, lá vai passando para todos, e, o ditado lá diz:”quem por nada faz, nada tem”!

A realização pessoal, passa pelo esforço diário e constante! Quem luta, embora nem sempre vença, mas encontra nas vitórias, estímulo e sentido para a vida! Vencer, é ser campeão, e, se for grande a luta, maior é a glória! “Dos fracos não reza a história”!

A segunda parte desta linda história, é já no outro lado da vida, onde não há lutas, nem dificuldades para vencer! A cada um, será mostrado o extracto da sua “conta corrente”, daquilo que ao longo da vida neste mundo, foi depositando no Banco da eternidade! Todos têm conta nesse Banco!

Partiu deste mundo a Maria e, já no céu, foi recebida por São Pedro, que lhe disse:“-Anda cá minha filha! Vem ver a tua casa que mandaste construir! Mostra-lhe uma espectacular vivenda! A Maria, muito admirada, pergunta: “-Não há engano, São Pedro? Eu não mereço uma casa tão bonita e tão boa!
-A casa é só tua! Foste tu, que mandaste para cá todo o material. Nós só fizemos a construção! É o resultado de todo o bem que fizeste, durante a tua vida na terra!
Muito feliz a Maria, lá tomou posse da sua eterna habitação.

Tempos depois, morre a Mariquinhas, igualmente recebida por São Pedro, que lhe vai mostrar a sua casa. Casa pequena, inacabada, uma casa muito pobre!
A Mariquinhas um tanto triste, pergunta: “-Não haverá engano, São Pedro! É esta a minha casa?”
-“Sim! Cá no céu, construímos a casa de cada um, com o material que o próprio manda, enquanto vive na terra! O que mandaste, só deu para isto, não deu para mais nada!

A Mariquinhas pergunta: -“a minha vizinha Maria, veio há pouco tempo para cá. Onde está ela”?
Vez aquela vivenda ali em cima? É a casa dela!
Irritada a Mariquinhas diz: “-Ó São Pedro! Deve haver engano! Ela, uma pobreta, tem uma bruta vivenda e eu, uma ricaça, vou morar numa barraca? Isto não tem jeito nenhum!

Com muita paciência, volta a explicar-lhe o São Pedro: “-Minha filha: cá no céu, cada um tem a casa construída, com o material que para cá mandou:-as boas obras que praticou, durante a sua vida terrena.
A Maria, passou a vida, fazendo bem! A todos ajudava, por isso, mandou material suficiente para fazer a sua linda casa! Tu, só te preocupavas em gozar. e mostrar as tuas vaidades! Não usaste o tempo como devias, praticando e fazendo o bem! Foi para isso que Deus criou o homem e a mulher! Muitos não pensam nisso e tu, também nunca te preocupaste muito! Por isso, como mandaste, pouco, não podes ter muito! Cada um, só tem aquilo que merece!

Manuel Rodrigues, Julho/2008

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Futebol - São Julião e os seus craques

Todos sabemos que o futebol, é um desporto que entusiasma, onde quer que seja praticado. Desde que foi inventado, nos fins do século XIX, em Liverpool, na Inglaterra, nunca mais parou de evoluir, ao ponto de se tornar no fenómeno que mais dinamiza todos os sectores e camadas sociais do mundo inteiro!
Pode ser jogado em grandes estádios, como em qualquer pequeno espaço; com dois grupos de onze contra onze, ou em grupos mais reduzidos; num rectângulo normal, ou num espaço mais pequeno; com balizas normais, ou outras marcas que as defina; uma bola melhor, ou de pior qualidade. Tudo serve para pôr a correr uns contra os outros, à procura do golo, que leve à vitória!
Recordo os tempos da minha infância e juventude, quando o “estádio” de São Julião era o largo do cruzeiro. As balizas, duas pedras de cada lado; A bola, feita de trapos ou com pelos de palmeira, que até pinchava, e já era coisa muito boa! Raramente havia bola de borracha e muito menos de capão, as mais parecidas com as bolas com que se joga hoje. Nesta terra não havia chuteiras! Os futebolistas, jogavam descalços, de chancas ou de sapatos, porque sapatilhas também não as havia. Muita luta, isso sim, até de mais. Quando surgiam discussões sobre os lances duvidosos, (não havia arbitro), eram por vezes de tal forma acesas, que só terminavam em pancadaria. Mas era engraçado! No fim, tudo acabava em bem, todos ficavam amigos.
Quem não gostava nada dos jogos, era o dono da mercearia, com as portas da casa ali ao pé das balizas! A bola, rematada com força, muitas vezes estilhaçava-lhe os vidros, o que não era nada agradável, temos que admitir! Quem também não gostava, era o tio Júlio Ribeiro. Detestava que a bola fosse parar ao seu quintal, ali por cima da outra baliza. Um forte chuto, atirava a bola lá para dentro do campo. Para ir lá buscá-la, os rapazes saltavam o muro, mas, para poderem trepar, tiravam pedras mais pequenas da parede, para poderem meter os pés para subir. Já dentro do campo, à procura da bola, era o cabo dos trabalhos. Davam-lhe cabo das culturas. Por tudo isso, as bolas que ele pudesse lá apanhar, era certo e sabido que ninguém mais as via!
São Julião, teve nesse tempo do pé descalço, uma boa equipa de futebol, que quase sempre levava a melhor, sobre as congéneres das freguesias vizinhas. Quase sempre ganhavam!
Foi nestas fracas condições desportivas, que surgiram alguns craques em São Julião. De destacar dois campeões nacionais do futebol júnior: O Martins, campeão de juniores e o marcador do golo que deu o único título ao Braga até hoje, e Duarte Rocha, guarda redes suplente!
Do mesmo tempo é o Rochinha, que fez parte da equipa principal do Braga, na 1ª divisão, e ao serviço do Gil Vicente!
Tal como outros, começaram estes jovens na nossa terra a mostrar as suas habilidades. Daqui, partiram e se destacaram, nas décadas de 70/80!
São Julião de Passos dispõe hoje dum complexo, com boas condições para a prática desportiva, concretamente para o futebol de salão (futsal), e outras modalidades que, em meu entender, está a ser muito mal aproveitado! Nada justifica a passividade de quem tem o dever de rentabilizar o investimento feito! É caso para dizer: naquele tempo, havia nozes mas não havia dentes. Hoje há nozes e há dentes, falta só quem dinamize! Se no passado tivéssemos tido as condições de que agora temos, talvez tivessem surgido outros campeões, de que hoje mais ainda nos orgulharíamos!
Manuel Rodrigues, Junho/2008