Jerónimo Fernandes da Silva, nasceu na freguesia de São Julião de Paços-Braga, no ano de 1935 e faleceu em 2003. Está sepultado cá, no cemitério da sua terra natal, em campa da família, muito simples e discreta, conforme seu pedido.
Não é necessário tecer elogios ao artista que se notabilizou em áreas diversas como a poesia, gravura, o desenho e, principalmente a pintura, porque a obra que Jerónimo nos deixou, é suficientemente bela e grandiosa para nos falar do filho desta terra que tanto nos orgulha!
Por aqui passou os primeiros tempos da sua vida, na casa da família - as Marcoas - no lugar de Belide, junto à estrada nacional.
O Jerónimo era um homem fisicamente a cima da média: Alto e forte. Tinha uma bigodaça que bem combinava com o cachimbo usado quase em permanência, que o caracterizavam e lhe davam um inconfundível ar de intelectual.
Penso que o Jerónimo não frequentou nenhum curso de pintura, mas dizia-se que a Escola de Belas-Artes do Porto, reconhecendo a sua classe lhe atribuiu um diploma!
Fez várias exposições: Barcelos, Braga, Lisboa, Póvoa de Varzim, Valença e no Brasil, tendo sido o primeiro pintor português e expor em Brasília.
Era uma homem com quem se gostava de conversar. A par dumas amenas cavaqueiras, bem regadas com uns copitos, lá vinham as histórias, pantominices e a narração das partidas que ele também sabia pregar.
O relato que se segue é revelador disso mesmo, passado em Barcelos e que me foi contado pelo Senhor David Miranda, nosso conterrâneo já falecido, homem muito conhecido naquela cidade, onde durante muitos anos exerceu a actividade de ourives.
Este episódio, mostra bem a arte, e a personalidade do pintor!
Jerónimo ,ainda muito novo, foi viver para Barcelos. Ali começou a revelar os seus talentos, que em pouco tempo o tornaram muito conhecido, estimado e admirado, de modo especial pela elite daquela urbe.
Vários amigos lhe pediam para desenhar ou pintar o seu retrato, preferencialmente a óleo sobre tela.
A ninguém dizia que não, mas não se comprometia com datas, nem com o preço que cobraria pelo seu trabalho! Aconteceria quando estivesse inspirado! O preço, esse, dependia do lado para que estivesse virado. Para uns, era uma graça que fazia, a outros, era capaz de exigir um dinheirão!
Vejamos o que aconteceu com um reputado médico barcelense, seu fã e amigo.
Jerónimo, diz-lhe o médico: - Quero que me faças um retrato para colocar no meu consultório. Ok. Responde o pintor. Quando calhar, logo lho entregarei.
Passaram-se meses e meses até que chegou o dia. Mestre Jerónimo, lá vai ao consultório do doutor para entregar a obra encomendada. O médico vê o quadro, analisa-o pormenorizadamente, e, de seguida pergunta: - e o preço? O pintor, certamente com as finanças nas lonas, diz: são dez mil escudos! (estávamos no início dos anos 60, nessa altura era muita nota). O médico ficou desapontado com o custo e diz-lhe: É um exagero Jerónimo! O quadro não vale esse dinheiro e, pior que isso, está cheio de defeitos. Pouco ou nada se parece comigo, pelo que ninguém me vai reconhecer neste retrato!
A questão, prendia-se mais com a nota, do que com a qualidade da obra!
Reage o artista.- Doutor, o quadro volta comigo, uma vez que afirma não se parecer consigo e ninguém o reconhecer neste retrato! Tentarei fazer outro que melhor o identifique. E lá volta o pintor com o quadro para casa.
O então presidente da câmara de Barcelos, era um dos seus grandes amigos, ao ponto de, muitas vezes lhe matar a fome, dado que o pintor andava quase sempre liso.
No regresso, com o quadro debaixo do braço passa pela casa do presidente e muito irritado, conta-lhe o sucedido!
Naquele estado de nervos, pede-lhe que o autorize a colocar em exposição, a obra que lhe foi afirmado não retratar o conhecidíssimo médico.
Depois de concedida a autorização, mestre Jerónimo vai para o seu atelier e substitui na pintura as orelhas do indivíduo, por umas grandes orelhas de burro! Por baixo, escreve em letras garrafais: QUEM SERÁ ESTE……ALGUÉM CONHECE ESTE ANIMAL? No dia seguinte pela manhã, lá vai colocar o lindo trabalho em exposição no edifício do turismo, bem à vista de toda a gente!
Todos quantos por ali passavam, ao verem o retrato, ficavam espantados e exclamavam! Olha que vergonha! O Doutor…… com umas orelhas de burro!
Os amigos do médico, ao verem tal coisa, logo lhe telefonaram: Doutor, a sua fotografia está exposta no turismo, “enfeitada” com umas grandes orelhas de burro! Todos galhofam de si! Mande retirar aquilo dali o mais rápido possível, porque é uma vergonha e humilhação para si!
O Médico logo contacta o presidente da câmara no sentido de mandar retirar o quadro, ao que este lhe responde: Doutor, o pintor contou-me que o senhor lhe dissera, que o retrato nada se parece com a sua pessoa. Assim sendo, não se trata do Doutor, mas de outra pessoa qualquer! Fale com o Jerónimo e entendam-se. Só com a ordem dele o quadro poderá sair dali!
O médico procura o Jerónimo e pede-lhe para retirar o quadro. Jerónimo responde: Aquele retrato não é o senhor, pelo menos foi isso que ontem me disse quando fui ter consigo, no seu consultório! Não foi verdade que me disse o retrato nada se parecer consigo? As pessoas é que devem estar a ver mal! Por isso sossegue, porque nada tem a ver com V. Exª.!
Perante a resistência do artista, o médico não teve outro recurso se não desembolsar os dez mil escudos e dá-los ao pintor, pagando assim a "obra prima, que de seguida lhe foi entregue.
Várias vezes tive o prazer de o receber em minha casa. A par de conversas animadas e piadas sempre cheias de bom humor, entornavam-se umas copadas de bom tinto, que tornavam ainda mais viva a já boa disposição. De facto, nesses encontros, passavam-se momentos inesquecíveis!
Um dia perguntei-lhe se foi verdade ter acontecido o episódio supra. Ele, soltando uma grande gargalhada responde: Tenho outras histórias interessantes para te contar! Um dia destes falaremos delas.
Infelizmente, passado pouco tempo, Jerónimo deixou de estar entre nós!
Faleceu, em 28 de Dezembro de 2003.
Que Deus o tenha junto de si.
Manuel Rodrigues
Não é necessário tecer elogios ao artista que se notabilizou em áreas diversas como a poesia, gravura, o desenho e, principalmente a pintura, porque a obra que Jerónimo nos deixou, é suficientemente bela e grandiosa para nos falar do filho desta terra que tanto nos orgulha!
Por aqui passou os primeiros tempos da sua vida, na casa da família - as Marcoas - no lugar de Belide, junto à estrada nacional.
O Jerónimo era um homem fisicamente a cima da média: Alto e forte. Tinha uma bigodaça que bem combinava com o cachimbo usado quase em permanência, que o caracterizavam e lhe davam um inconfundível ar de intelectual.
Penso que o Jerónimo não frequentou nenhum curso de pintura, mas dizia-se que a Escola de Belas-Artes do Porto, reconhecendo a sua classe lhe atribuiu um diploma!
Fez várias exposições: Barcelos, Braga, Lisboa, Póvoa de Varzim, Valença e no Brasil, tendo sido o primeiro pintor português e expor em Brasília.
Era uma homem com quem se gostava de conversar. A par dumas amenas cavaqueiras, bem regadas com uns copitos, lá vinham as histórias, pantominices e a narração das partidas que ele também sabia pregar.
O relato que se segue é revelador disso mesmo, passado em Barcelos e que me foi contado pelo Senhor David Miranda, nosso conterrâneo já falecido, homem muito conhecido naquela cidade, onde durante muitos anos exerceu a actividade de ourives.
Este episódio, mostra bem a arte, e a personalidade do pintor!
Jerónimo ,ainda muito novo, foi viver para Barcelos. Ali começou a revelar os seus talentos, que em pouco tempo o tornaram muito conhecido, estimado e admirado, de modo especial pela elite daquela urbe.
Vários amigos lhe pediam para desenhar ou pintar o seu retrato, preferencialmente a óleo sobre tela.
A ninguém dizia que não, mas não se comprometia com datas, nem com o preço que cobraria pelo seu trabalho! Aconteceria quando estivesse inspirado! O preço, esse, dependia do lado para que estivesse virado. Para uns, era uma graça que fazia, a outros, era capaz de exigir um dinheirão!
Vejamos o que aconteceu com um reputado médico barcelense, seu fã e amigo.
Jerónimo, diz-lhe o médico: - Quero que me faças um retrato para colocar no meu consultório. Ok. Responde o pintor. Quando calhar, logo lho entregarei.
Passaram-se meses e meses até que chegou o dia. Mestre Jerónimo, lá vai ao consultório do doutor para entregar a obra encomendada. O médico vê o quadro, analisa-o pormenorizadamente, e, de seguida pergunta: - e o preço? O pintor, certamente com as finanças nas lonas, diz: são dez mil escudos! (estávamos no início dos anos 60, nessa altura era muita nota). O médico ficou desapontado com o custo e diz-lhe: É um exagero Jerónimo! O quadro não vale esse dinheiro e, pior que isso, está cheio de defeitos. Pouco ou nada se parece comigo, pelo que ninguém me vai reconhecer neste retrato!
A questão, prendia-se mais com a nota, do que com a qualidade da obra!
Reage o artista.- Doutor, o quadro volta comigo, uma vez que afirma não se parecer consigo e ninguém o reconhecer neste retrato! Tentarei fazer outro que melhor o identifique. E lá volta o pintor com o quadro para casa.
O então presidente da câmara de Barcelos, era um dos seus grandes amigos, ao ponto de, muitas vezes lhe matar a fome, dado que o pintor andava quase sempre liso.
No regresso, com o quadro debaixo do braço passa pela casa do presidente e muito irritado, conta-lhe o sucedido!
Naquele estado de nervos, pede-lhe que o autorize a colocar em exposição, a obra que lhe foi afirmado não retratar o conhecidíssimo médico.
Depois de concedida a autorização, mestre Jerónimo vai para o seu atelier e substitui na pintura as orelhas do indivíduo, por umas grandes orelhas de burro! Por baixo, escreve em letras garrafais: QUEM SERÁ ESTE……ALGUÉM CONHECE ESTE ANIMAL? No dia seguinte pela manhã, lá vai colocar o lindo trabalho em exposição no edifício do turismo, bem à vista de toda a gente!
Todos quantos por ali passavam, ao verem o retrato, ficavam espantados e exclamavam! Olha que vergonha! O Doutor…… com umas orelhas de burro!
Os amigos do médico, ao verem tal coisa, logo lhe telefonaram: Doutor, a sua fotografia está exposta no turismo, “enfeitada” com umas grandes orelhas de burro! Todos galhofam de si! Mande retirar aquilo dali o mais rápido possível, porque é uma vergonha e humilhação para si!
O Médico logo contacta o presidente da câmara no sentido de mandar retirar o quadro, ao que este lhe responde: Doutor, o pintor contou-me que o senhor lhe dissera, que o retrato nada se parece com a sua pessoa. Assim sendo, não se trata do Doutor, mas de outra pessoa qualquer! Fale com o Jerónimo e entendam-se. Só com a ordem dele o quadro poderá sair dali!
O médico procura o Jerónimo e pede-lhe para retirar o quadro. Jerónimo responde: Aquele retrato não é o senhor, pelo menos foi isso que ontem me disse quando fui ter consigo, no seu consultório! Não foi verdade que me disse o retrato nada se parecer consigo? As pessoas é que devem estar a ver mal! Por isso sossegue, porque nada tem a ver com V. Exª.!
Perante a resistência do artista, o médico não teve outro recurso se não desembolsar os dez mil escudos e dá-los ao pintor, pagando assim a "obra prima, que de seguida lhe foi entregue.
Várias vezes tive o prazer de o receber em minha casa. A par de conversas animadas e piadas sempre cheias de bom humor, entornavam-se umas copadas de bom tinto, que tornavam ainda mais viva a já boa disposição. De facto, nesses encontros, passavam-se momentos inesquecíveis!
Um dia perguntei-lhe se foi verdade ter acontecido o episódio supra. Ele, soltando uma grande gargalhada responde: Tenho outras histórias interessantes para te contar! Um dia destes falaremos delas.
Infelizmente, passado pouco tempo, Jerónimo deixou de estar entre nós!
Faleceu, em 28 de Dezembro de 2003.
Que Deus o tenha junto de si.
Manuel Rodrigues