segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um paraíso nas margens do rio Labriosque

S. Julião de Paços apresenta-nos um dos maiores pulmões ecológicos do concelho de Braga, na encosta do rio Labriosque, que nasce no monte da Levandeira, na fronteira com Bastuço. Este atravessa São Julião, passa por Martim e desagua no rio Cávado na freguesia da Pousa.
Nas suas margens nasceram muitos e bem cuidados moinhos e azenhas, símbolos de uma agricultura forte, actividade que predominou na localidade ao longo de vários séculos. Estes moinhos integram, nos dias de hoje um património que caracteriza a freguesia.
Nascida à sombra do Castelo de Penafideles de Bastucio, a freguesia de S. Julião de Paços é hoje o resultado da fusão com a de S. Tomé da Serra, também designada São Veríssimo de Quintanela, da qual restam ainda vestígios do seu antigo cemitério. As pedras da sua igreja integram as paredes da sacristia da Igreja paroquial desta localidade, construída em 1779/1784..
A sul de S. Julião de Paços, passava a estrada medieval que ligava Braga a Vila do Conde. A norte, passava a estrada romana de Braga ao longo do rio Cávado.
O lugar da Torre é um dos lugares mais antigos desta terra, conhecido por ter um aglomerado de construções rurais antigas.
A documentação mais antiga sobre S. Julião de Paços surge no ‘Liber Fidei (1018), estudado pelo professor Avelino Jesus da Costa, que fala nas doações de terras e moinhos à Sé de Braga.
Do seu antigo e vasto património, destaque para os vestígios arqueológicos. Referência particular, para uma tampa de sepultura da antiga Necrópole Medieval em São Tomé da Serra, com inscrições da segunda metade do séc.XI, encontrada pelo padre Mário César Marques, nos anos setenta.
Referência ainda para a Igreja Paroquial, datada do séc. XVIII , e para o nicho do Senhor dos Trabalhos.
Ordenação heráldica do brasão e bandeira, publicada no Diário da República, III Série de 19/06/2000.
Armas - Escudo de ouro, torre de vermelho, iluminada, aberta e lavrada de prata; em campanha, dois ramos de pinheiros, frutados, tudo de verde, com os pés passados em aspa. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda a negro, em maiúsculas : “ PASSOS – S. JULIÃO “. (Deveria ser, SÃO JULIÃO DE PAÇOS)
Orago: São Julião
População: 987 habitantes. Área – 1,9 km2
Actividades económicas: Agricultura, pequena indústria e comércio
Festas e romarias: Senhora do Rosário (2º Domingo de Maio) e São Julião ( 9 de Janeiro)
Gastronomia: Cozido à portuguesa, rojões e arroz "pica-no-chão"
Artesanato: Mantas de farrapos, tapeçaria, rendas, bordados e talha de vários estilos.
Colectividades: Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Passos, grupo coral da paróquia e grupo de música popular portuguesa “Minho a Cantar”, com dois trabalhos publicados e mais de vinte originais, onde se destacam o hino de São Julião, o Bom Jesus do Monte, lendas do penedo do castelo, fui beber a Vila pouca, etc..
A antiga freguesia de S.Julião de Paços era abadia da apresentação da mitra, no termo de Barcelos, anexa à de S.Tomé da Serra. Passou para o concelho de Braga em Outubro de 1853.
Confronta com as freguesias de Cabreiros, Sequeira, Tadim, Vilaça, Cunha, Bastuço (Stº Estevão) e Martim
"É uma das freguesia mais antigas do Minho - diz Pinho Leal. Fica abaixo do monte antigamente chamado Bastucio, hoje Bastuço, pela encosta passa o rio Laviorto/Labriosque, numa extensão de cerca de três quilómetros.
Aqui teve diversas fazendas Afonso Nantes Mires, das quais deixou uma à Sé de Braga em 1073. D.Adozinda, mulher de Mendo Sijiniz opôs-se e esta doação e teve demanda com D.Geraldo, então arcebispo: por fim compuseram-se, em 1106".

sexta-feira, 3 de junho de 2011

20 Junho 1933 - Inauguração Estrada Municipal
A obra da ditadura em Braga e Barcelos


Quando o Estado Novo foi instituído, no dia 11 de Abril de 1933 (consequência da entrada em vigor da Constituição de 1933), foi dado início a uma obra há muito ansiada pelas populações do interior dos concelhos de Braga e de Barcelos.
Essa obra foi a abertura de uma estrada que ligava as freguesias de Sequeira e S. Julião de Passos, no concelho de Braga, às freguesias de Bastuço S. Estevão, Bastuço S. João, Sequiade e Moure, no concelho de Barcelos, vindo ligar à estrada que ligava Barcelos ao Porto, passando por Famalicão.

Essa estrada, que foi iniciada em 1933, manteve-se durante as décadas seguintes como uma das principais ligações entre o interior dos concelhos de Braga e de Barcelos. Aliás, muitas das pessoas que se deslocavam através de autocarros, de Braga para Barcelos ou para as praias de Apúlia, faziam-no usando este percurso.

Foi, como referi, no ano em que entrou em vigor o Estado Novo (1933) que essa estrada foi construída. Foi no início do mês de Junho que, nas freguesias de Moure e Sequiade, as obras se iniciaram. Segundo o jornal ‘Correio do Minho’, de 8 de Julho de 1933, “os trabalhos do corte da nova estrada que partindo do lugar Pinheiro Grande, em Crujães, na estrada que desta cidade segue para o Porto, por Famalicão, vai passar por Airó, Moure, Sequiade, Bastuço S. João e Bastuço S. Estevão, para ligar à estrada de S. Julião de Passos”.

A inauguração destes trabalhos ocorreu no dia 20 de Junho de 1933 e nela participaram o Governador Civil de Braga (José Gomes de Matos Graça); o Presidente da Câmara Municipal de Barcelos (Furtado Martins); o Administrador do Concelho (Francisco Monteiro Torres) e ainda as autoridades das freguesias envolvidas nesta obra.
Na cerimónia de inauguração destes trabalhos assistiu uma enorme multidão de pessoas, que aproveitaram o momento para “dar vivas” aos presentes, mas também a Oliveira Salazar, ao Governo da União Nacional e ao ‘Portugal Novo’.

O ‘Correio do Minho’ referiu que era enorme o entusiasmo das populações destas freguesias, uma vez que este era um melhoramento que há muitas dezenas de anos ambicionavam.
Os trabalhos decorreram durante o Verão, tendo os habitantes destas freguesias, no meadamente os lavradores, dado um impulso enorme à obra, já que auxiliaram os trabalhadores da obra.
No dia 29 de Junho de 1933 o jornal ‘Noticias de Barcelos’ referia que se trabalha “com entusiasmo na construção da nova estrada; dentro em poucos meses, a caminhar assim se poderá transitar por ela”.

Mas as obras “da ditadura”, como então ficavam conhecidas, não se limitaram apenas a estas freguesias. Em Agosto desse mesmo ano, a freguesia vizinha de Couto de Cambeses beneficiou do início da construção de uma obra de grande interesse local. Tratou-se da abertura de uma estrada que ligava o apeadeiro da freguesia à estrada de Sequiade, entroncando precisamente na estrada que ligava S. Julião de Passos a Moure.

O início destas obras ocorreu no dia 30 de Julho de 1933, e nela marcaram presença o Governador Civil, o Presidente da Câmara Municipal de Barcelos, o Administrador do Concelho e ainda o vereador das estradas (Bessa e Menezes). Segundo o jornal ‘Noticias de Barcelos’ (de 10 de Agosto de 1933) a “recepção foi imponente, sendo acompanhados por todo povo da freguesia desde a sua chegada ao Apeadeiro - começo da Avenida - até à residência do snr abade Sebastião de Sá, com vivas, fogo e musica, onde lhes foi servido um lauto almoço”.

Na ocasião, o Presidente da Câmara Municipal de Barcelos referiu que há muitos anos que tem inúmeros amigos nesta freguesia, pelo que o seu empenho na resolução dos problemas é total.
Era do interesse das autoridades presentes que as obras da avenida principal da freguesia fossem concluídas antes da chegada do Inverno (1933), uma vez que, se as chuvas caíssem com intensidade, poderiam estragar esta obra, que tem um declive acentuado.

A recepção destes convidados foi de tal forma imponente, que o jornal ‘Noticias de Barcelos’, do dia 10 de Agosto de 1933, referiu que “Suas Ex.as deviam ter notado que o bom povo de Cambezes prima em receber bem os seus hospedes e ser reconhecido a quem o estima”.
Estas foram duas obras de grande interesse para as populações do interior dos concelhos de Braga e de Barcelos, mantendo-se estas estradas, ainda hoje, como as principais que atravessam estas freguesias.

Joaquim Gomes in CORREIO DO MINHO, 14 Março de 2011