sábado, 28 de agosto de 2010

Senhor padre João da Costa

Cada comunidade cristã tem à sua frente um pároco, um pastor, em ordem à condução do povo de Deus, por caminhos seguros e verdadeiros.

Assim é conforme os desígnios do Bom Pastor que deu a vida pelas Suas ovelhas e quer que todas sejam sempre bem tratadas, até às pastagens eternas do Céu.

Vou recordar os dois padres que exerceram o seu múnus nesta paróquia de São Julião de Paços, nos meus primeiros tempos de vida:

-Padre João da Costa - (1919/1953);

-Padre Mário César Marques (1954/1980);

O padre João da Costa, nasceu na vizinha freguesia de Sequeira, em 3 de Março de 1883. Estudou nos seminários de Braga, foi ordenado na Sé Catedral e tomou conta desta paróquia em 1919, tendo sucedido ao padre José Dias. Antes deste curaram a freguesia, o padre Oliveira e o padre Vilela, respectivamente.

Fui baptizado pelo padre João da Costa, em 7 de Julho de 1942. Ensinou-me a catequese e recebi a primeira comunhão, em meados de 1948.

Na altura em que veio para esta paróquia, vivia ainda o país as consequências do derrube da monarquia pelos republicanos, em 1910.

O novo regime sentia muitas dificuldades em encontrar o rumo para o País. Vivia-se grande instabilidade e consequente falta de paz! Guerrilhas permanentes entre facções diferentes deram motivo a que em apenas dezasseis anos o País tivesse 47 governos, com as consequências sociais daí resultantes.

Foi nesse contexto que o padre João da Costa começou o seu pastoreio nesta terra, o que por certo não facilitou a sua missão.

São Julião de Paços, tinha um passal com cerca de 10 hectares de terras de lavradio e bravio, situados entre a igreja e os montes do Castelo, que garantiam o sustento do pároco. A residência paroquial situava-se nesses terrenos, a cem metros, a Sul da igreja, na casa que ainda hoje é conhecida por “casa do passal”.

Na primeira Republica, com Afonso Costa a ministro da justiça, o estado confiscou todas essas terras da igreja, ficando a freguesia sem nada! Até os sinos da torre da igreja quiseram roubar, mas a firme oposição por parte dos membros da confraria da Senhora do Rosário, impediu que tal acontecesse.

O padre, escorraçado da sua residência, foi morar na casa dum paroquiano no lugar do Outeiro.

As terras roubadas à freguesia, foram pouco tempo depois vendidas pelo estado a um tal brasileiro,da freguesia de Cabreiros que, à sua morte, em herança, ficaram para o filho.

O brasileiro, tinha arranjado um feitor para amanhar as terras. O herdeiro, pouco tempo após a morte do pai, vendeu-as ao próprio feitor, o Senhor Manuel Oliveira Rodrigues, que passou a ser conhecido por Manuel do passal. As terras ainda hoje são conhecidas por “campos do passal”!

Espoliados dos bens paroquiais, os membros da fabriqueira, em 1920, compraram, uma pequena parcela de terreno junto da igreja, (o passal que temos hoje), e nele construíram a residência para o pároco.

A freguesia não tinha cemitério! Os mortos eram sepultados dentro da igreja, por baixo do soalho, composto por tampas rectangulares de madeira. Quando era preciso, retirava-se uma tampa e aí se abria a sepultura que, depois do enterro, se voltava a colocar no respectivo lugar.

Posteriormente os enterros, passaram a ser feitos no adro, em volta da igreja.

Por volta de 1930, foi comprado um pouco do terreno do antigo passal, onde se fez o cemitério que temos hoje e que começou a ser utilizado em 1932.

O padre João da Costa era um homem bastante temperamental, mas um sacerdote muito zeloso nos actos do culto: Havia missa diária e várias novenas durante o ano. No natal ao menino Jesus; a S. Sebastião em Janeiro; em Maio o mês de Maria; o mês das almas em Novembro; os clamores nas sextas-feiras da quaresma. Aos domingos da parte de tarde havia sempre na igreja a rezado o terço. No primeiro domingo de cada mês, havia a adoração ao Sanctíssimo.

A catequese era sempre aos domingos de tarde, antes da reza do terço. Todos os restantes serviços religiosos eram feitos sistematicamente na hora devida.

O padre João tinha uma empregada, a senhora Luzia, uma santa mulher que, para além das trabalhos na residência, arranjava tempo para ensinar catequese aos mais pequenitos. Para cativar as crianças a quem ensinava a doutrina, contava lindas histórias muito edificantes! Raro era o dia que ela não desse maçãs assadas ou pêras e outras coisas que motivassem.

O padre passava a maior parte do seu tempo na igreja ou na residência para atender os paroquianos. A igreja estava sempre aberta durante o dia, para quem lá quisesse entrar para rezar.

A missa durante a semana era celebrada às seis horas da manhã, se não houvesse novenas ou outros actos religiosos, nesses casos, começava mais cedo para terminar a tempo dos artistas que trabalhavam em Braga, pudessem iniciar o seu trabalho às oito horas, depois de fazerem o percurso a pé de cerca de uma hora e meia.

A celebração da Eucaristia aos Domingos era às sete da manhã. Missa ainda em latim e com o sacerdote de costas voltadas para o povo. Era cedo, porque só se podia comungar em jejum, isto é, sem comer nada depois da meia-noite. Assim foi até 1963, altura em que o Concílio Vaticano II permitiu as alterações para as condições que temos hoje.

A linda torre da nossa igreja, foi edificada no seu tempo, numa época de muitas dificuldades económicas, tempos de muita pobreza, mas a fé e a gente muito boa de São Julião tudo superava e a obra foi levada a cabo!

Começaram as obras em 1949 com a demolição do velho torreão de dois sinos e construída a nova torre com trinta metros de altura e de quatro sineiras, inaugurada em 1952.

O padre João da Costa tinha como paroquiano um seu irmão: senhor Manuel da Costa, proprietário da casa de Julião no lugar de Fijô.

Depois de passados mais de trinta anos como pároco, já bastante fragilizado, deixou esta paróquia em finais de 1953 e foi ainda para a capelania de Santo António de Beçadas, em Barcelinhos.

Com a saída do padre João, ficou a freguesia durante uns meses entregue ao padre Bompastor, pároco da freguesia de Cabreiros, até à tomada de posse do senhor padre Mário César Marques, que se verificou em Maio de 1954.

Certamente que o padre João, tinha as suas limitações como todos temos, mas deixou bem vincadas as marcas da sua acção apostólica.

Depois duns meses passados em Barcelinhos, veio morar na casa dum familiar em Sequeira. De lá foi para o Lar Conde-Agrolongo em Braga, onde faleceu no dia 18 de Novembro de 1961, tendo sido sepultado no cemitério da freguesia de Sequeira sua terra natal.

Que Deus o recompense.

Manuel Rodrigues. Agosto de 2010.