quinta-feira, 26 de junho de 2008

Futebol - São Julião e os seus craques

Todos sabemos que o futebol, é um desporto que entusiasma, onde quer que seja praticado. Desde que foi inventado, nos fins do século XIX, em Liverpool, na Inglaterra, nunca mais parou de evoluir, ao ponto de se tornar no fenómeno que mais dinamiza todos os sectores e camadas sociais do mundo inteiro!
Pode ser jogado em grandes estádios, como em qualquer pequeno espaço; com dois grupos de onze contra onze, ou em grupos mais reduzidos; num rectângulo normal, ou num espaço mais pequeno; com balizas normais, ou outras marcas que as defina; uma bola melhor, ou de pior qualidade. Tudo serve para pôr a correr uns contra os outros, à procura do golo, que leve à vitória!
Recordo os tempos da minha infância e juventude, quando o “estádio” de São Julião era o largo do cruzeiro. As balizas, duas pedras de cada lado; A bola, feita de trapos ou com pelos de palmeira, que até pinchava, e já era coisa muito boa! Raramente havia bola de borracha e muito menos de capão, as mais parecidas com as bolas com que se joga hoje. Nesta terra não havia chuteiras! Os futebolistas, jogavam descalços, de chancas ou de sapatos, porque sapatilhas também não as havia. Muita luta, isso sim, até de mais. Quando surgiam discussões sobre os lances duvidosos, (não havia arbitro), eram por vezes de tal forma acesas, que só terminavam em pancadaria. Mas era engraçado! No fim, tudo acabava em bem, todos ficavam amigos.
Quem não gostava nada dos jogos, era o dono da mercearia, com as portas da casa ali ao pé das balizas! A bola, rematada com força, muitas vezes estilhaçava-lhe os vidros, o que não era nada agradável, temos que admitir! Quem também não gostava, era o tio Júlio Ribeiro. Detestava que a bola fosse parar ao seu quintal, ali por cima da outra baliza. Um forte chuto, atirava a bola lá para dentro do campo. Para ir lá buscá-la, os rapazes saltavam o muro, mas, para poderem trepar, tiravam pedras mais pequenas da parede, para poderem meter os pés para subir. Já dentro do campo, à procura da bola, era o cabo dos trabalhos. Davam-lhe cabo das culturas. Por tudo isso, as bolas que ele pudesse lá apanhar, era certo e sabido que ninguém mais as via!
São Julião, teve nesse tempo do pé descalço, uma boa equipa de futebol, que quase sempre levava a melhor, sobre as congéneres das freguesias vizinhas. Quase sempre ganhavam!
Foi nestas fracas condições desportivas, que surgiram alguns craques em São Julião. De destacar dois campeões nacionais do futebol júnior: O Martins, campeão de juniores e o marcador do golo que deu o único título ao Braga até hoje, e Duarte Rocha, guarda redes suplente!
Do mesmo tempo é o Rochinha, que fez parte da equipa principal do Braga, na 1ª divisão, e ao serviço do Gil Vicente!
Tal como outros, começaram estes jovens na nossa terra a mostrar as suas habilidades. Daqui, partiram e se destacaram, nas décadas de 70/80!
São Julião de Passos dispõe hoje dum complexo, com boas condições para a prática desportiva, concretamente para o futebol de salão (futsal), e outras modalidades que, em meu entender, está a ser muito mal aproveitado! Nada justifica a passividade de quem tem o dever de rentabilizar o investimento feito! É caso para dizer: naquele tempo, havia nozes mas não havia dentes. Hoje há nozes e há dentes, falta só quem dinamize! Se no passado tivéssemos tido as condições de que agora temos, talvez tivessem surgido outros campeões, de que hoje mais ainda nos orgulharíamos!
Manuel Rodrigues, Junho/2008

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Exemplo a imitar

Nos tempos recuados, de modo especial depois da segunda grande guerra (1939/1945), muita fome se passava em Portugal, e concretamente cá na nossa zona, atingindo de modo especial, como sempre acontece, as camadas mais pobres.
Famílias geralmente numerosas. Raramente uma família tinha menos de 6 filhos, algumas que conheci com mais de dez, doze e até com vinte, e mais filhos! Os ganhos eram poucos, faltava trabalho, subsídios do Estado, abono de família e outros, nem vê-los! Os jornaleiros na lavoura, trabalhavam de sol a sol, para ganhar a ninharia de “sete coroas”(3$50), o equivalente a pouco mais que um euro e meio/dia. Claro que as sete coroas naquele tempo, daria hoje por exemplo, para comprar duas garrafas de azeite ou uma arroba (15kg) de milho, mas que era isso para manter uma família numerosa?
Os trolhas, pedreiros, carpinteiros, etc., normalmente, não tinham trabalho certo. Tinham que ir às ordens! O que era isso de ir às ordens? Tinham que ir à casa do mestre, normalmente à cidade de Braga, de carolinas nos pés, (umas tábuas com o feitio dos chinelos de praia), um naco de broa numa saca debaixo do braço, lá iam procurar o mestre, o patrão que contratava as obras, para saber se havia trabalho e onde! Se havia trabalho e a obra ficava longe, tinham que fazer mais uns quilómetros a pé, para lá chegar! Se o mestre não tivesse trabalho, voltavam para casa pelo mesmo caminho. Hora e meia a pé para cada lado, cheios de cansaço e fome, tristes e desanimados, por não poderem ganhar o pão para manter os filhinhos! Era assim o viver de muitas famílias das nossas aldeias!
Hoje, contar estas coisas aos nossos jovens, dizer-lhes que nesses tempos, em muitas casas, uma só sardinha era repartida por dois ou três filhos, pensam que lhe devem estar a contar alguma anedota, mas, de facto era mesmo assim! Comia-se o bocado da sardinha com um pouco de broa, lambiam-se os dedos e se tivessem uma malga de caldo para comer, que felicidade já não era! Arroz, só ao Domingo, e quando era, era uma festa! Oxalá esses tempos não voltem mais, mas que se passava muita fome, lá isso é verdade!
No meio de tanta necessidade e pobreza, quero recordar, destacar e enaltecer um HOMEM desta freguesia que ficou conhecido como “O PAI DOS POBRES: O Senhor Eduardo Augusto Pereira Machado, dono da casa do Souto (1869/1953), casa de lavoura. Um homem sempre atento à necessidade dos outros, apesar das dificuldades porque também passava, para criar e formar os filhos.
Quando tinha conhecimento do nascimento de mais uma criança numa dessas famílias pobres, logo dizia à empregada: - Maria (*) mata uma galinha e leva-a a fulana, que acaba de ter um bebé! Ela não deve ter e necessita de ser melhor alimentada após o parto….! Que alegria aquela mãe sentia com tão nobre e generoso gesto! –“Que Nosso Senhor o abençoe, o ajude, e lhe dê o céu”! Agradecida, dizia a nova mãe! E para o bom homem, não havia melhor agradecimento!
Na consoada, todos os pobres da freguesia tinham direito a uma boa ceia de Natal! A casa do Souto, já tinha por uso, cozer várias fornadas de broa para dar aos pobres naquele dia! Cada família pobre, á hora marcada, lá ia à casa do Souto, buscar um grande cesto cheio de batatas, cebolas, hortaliça, bacalhau, uma ou duas broas de pão, um garrafão de vinho, etc.! Havia natal! Nesse dia havia festa em todos os lares! Não havia pai natal, mas o Menino Jesus providenciava para que o coração deste bondoso HOMEM , de todos se lembrasse, para que, pelo menos nesse dia, não houvesse fome, em casa nenhuma desta aldeia!
Conta-se que, já em idade avançada, pensou em experimentar o que aconteceria quando ele viesse a faltar. Se a tradição no natal de cuidar dos pobres se iria ou não manter. Então, avisa que vai passar a quadra natalícia na casa de um familiar, em Goios-Barcelos, terra de origem da esposa, a D. Emilinha, (faleceu com 105 anos. Deixa recomendações, para que no natal, tudo se faça como de costume!
Lá vai uma semana antes, e só regressaria uma semana depois do natal. Mas a sua ideia era fazer a surpresa. No dia de consoada, no princípio da tarde, chega a casa e vê muita gente ao portal, à espera, e lá dentro, tudo sossegado: O forno, não cozeu a broa, e o resto, como num dia normal! Entra apressadamente o patrão sem ninguém contar! Ao ver tudo parado, desata aos berros, e a gritar pergunta: Foram estas as ordens que vos dei? Logo entra tudo em rebuliço. Já ninguém sabia onde se meter! Começam os criados a dar à perna! Uns acendem logo o forno, a farinha começa a ser amassada, os cestos são logo cheios como habitualmente,e só falta o pão! Só ficará pronto para ser entregue, lá mais para a tardinha! É assim, que desta forma, os seus pobres pelo menos mais este ano, vão ter natal!
O Senhor Machado, viveu ainda mais uns anos! Conheci-o muito bem e muitas vezes me lembro dele!
Que Deus o cubra de glória lá no céu, e que o seu exemplo nos leve a ajudar sempre também, aqueles que da nossa ajuda precisam. “Quem dá aos pobres, empresta a Deus”!
Não consta que quando deixou este mundo, tenha levado dinheiro com ele! Acompanhou-o sim, todo bem que fez enquanto por cá viveu, e agora no céu, já tem a merecida recompensa! Se hoje é recordado, não certamente pela casa, pelos campos ou outros bens, mas por que tinha um grande coração para amar!

(*) Maria, conhecida por Maria da cozinha, foi criada de cozinha na casa do souto, durante 75 anos.

Manuel Rodrigues / Junho de 2008.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Lenda do Penedo do Castelo

Falam-nos lendas antigas
De povos lá instalados,
Do penedo cheio de ouro
E de mouros encantados!

Um dia um rapaz do gado,
Meteu-se lá num enredo:
Escondido descobriu,
Chave p’ra abrir o penedo.

Três vezes abre-te sésamo,
E o penedo se abria,
Ouro sem conta lá dentro,
Diz a lenda que havia.

Só que o rapaz expedito
No penedo se meteu,
Encheu bem os bolsos de ouro
Mas da chave se esqueceu!

Três vezes, abre-te Zé
Grita ele atrapalhado,
Por não ser a chave certa
Fica o penedo fechado.

Chegam os mouros e notam,
Que há ali estenderete,
O ladrão deitam à porta,
Morto, a servir de tapete.

È uma das muitas lendas
Que do castelo nos dão,
Notas de grande valor,
De Paços São Julião

Refrão:
SÃO JULIÃO TERRA LINDA,
TENS UM PASSADO TÃO BELO,
FOSTE PAÇOS DE CONCELHO,
NO PENEDO DO CASTELO



N.B.
Esta lenda do penedo do castelo, foi adaptada em verso pelo grupo de música popular portuguesa “Minho a Cantar” desta terra. Tivemos a preocupação em dar uma ideia genérica da lenda, não pormenorizando porém tudo quanto a tradição oral refere, para não tornar demasiado exaustiva, a canção a que a lenda deu origem.
Este trecho do “Minho a cantar”, é um dos cerca de vinte originais, criados e cantados por este grupo, disponíveis em duas gravações.

Manuel Rodrigues, Junho de 2008.

terça-feira, 17 de junho de 2008

São Julião de Passos e o seu passado glorioso

A história dum povo, faz-se no presente, alicerçado no passado, construindo o futuro.
É bom recordar o passado, quando dele guardamos gratas recordações. Falar da história de São Julião de Paços, mormente dos primeiros sessenta anos do século passado, é coisa de que muito nos podemos orgulhar! Esta freguesia primava pela união entre todos, reinava a mútua ajuda, e o saber estar e viver em comunidade! Surgia uma iniciativa, um projecto, que tinha o objectivo de valorizar a paróquia, todos se uniam em torno dessa ideia! Tudo era causa de todos, ao mesmo tempo que, cada um a assumia como coisa sua! Foi assim uma terra modelo até aos anos sessenta.
Para as freguesias vizinhas, São Julião, era tida como freguesia exemplar, por ser tão unida e acolhedora, como raramente se via noutras freguesias!
Por essa altura dos anos 6O, o diabo fez das dele! Duas das famílias das mais dominantes, desentenderam-se, por mesquinhices de interesses particulares, relacionados com a água que abastecia a residência paroquial! Desde essa altura, nunca mais houve união na freguesia como dantes!
Como sempre acontece, uns tomam um partido, outros puseram-se do outro lado, e o resultado não podia ser o melhor.
Antes, dava gosto ver as pessoas, no fim da missa, junto ao adro da igreja, conversando amigavelmente umas com as outras, onde muita coisa se decidia. A partir daí, o convívio acabou, o hábito foi-se perdendo, e o diálogo deixou de existir, bem como a união entre as pessoas. Hoje, é aquilo que se vê! Cada um move-se pelas suas ideias e delas não abdica! Assim sendo, nunca se vai a lado nenhum! Não se tomam iniciativas de jeito, cada um faz como quer e entende, e a freguesia vive mergulhada na apatia e num terrível marasmo!
Se as pessoas que existiam em São Julião nesses bons tempos cá pudessem vir, e verificar como são os relacionamentos hoje, ficariam muito tristes e desiludidas! Por certo que diriam: não foi o que nós deixamos!

No início de século XX, surgiu nesta freguesia, um movimento de grande actividade cultural!
Muitos jovens se dedicavam à aprendizagem da música. Havia bons tocadores de instrumentos de sopro e de cordas.
Era frequente os rapazes fazerem serenatas às moças que queriam conquistar e às próprias namoradas. Isso motivava a que aprendessem a tocar: bandolim, violino ou rabeca, violão, guitarra, flauta transversal, etc.. Muitas aldeias tinham a sua tuna!
Cá foi criado um grupo de teatro, (em 1905) que levou aos palcos uma obra cénica de grande envergadura, extraída da Bíblia: o “José do Egipto”!
Baseada na vida de um dos filhos mais novos de Jacob – José que, com doze anos, por seus irmãos, por inveja, o roubaram ao pai e venderam para o Egipto!
Este drama é constituído por sete actos, tem um elenco de quarenta personagens, e a sua representação dura cerca de quatro horas!
Obra imponente, já foi esplendidamente representada por populares artistas da nossa terra, nos anos: 1907, 1926, 1935, 1945 e, pela última vez, em 1957! Em 1980 tentamos ensaia-la novamente, não tendo sido possível concretizar o sonho, devido a divisões existentes na freguesia, apesar de haver as melhores condições de sempre para o efeito! Tentaremos de novo brevemente.
Houve naqueles bons tempos nesta terra, músicos de alta craveira! Alguns deles, impuseram-se como grandes maestros de bandas musicais, nomeadamente, na banda musical de Cabreiros. Com o saber e classe destes músicos no comando, viveram estas bandas, os tempos mais brilhantes da sua historia! São exemplos disso, dois grandes musicólogos desta terra, ligados à família dos Balteiros. Um que morou no lugar do Outeiro, maestro Manuel Gonçalves, um fora de série! Pegava numa partitura, (pauta de música) e, à primeira vista, logo a solfejava com toda a facilidade e na maior perfeição! Só um grande músico é capaz de poder fazer isso! Outro, foi o Senhor Adelino Pereira Gonçalves, também meu professor de música. Foi um grande maestro da banda musical de Cabreiros, durante vários anos. Homem imponente, e cheio de estilo! Residia no lugar da igreja, desta freguesia. Tinha peripécias únicas! Era um homem sem stress. Mesmo que tivesse a casa a arder, por nada se afligia! Um génio da música, e grande homem!
Outros bons músicos desta terra merecem destaque, tais como, o Senhor Bernardino Pereira, em clarinete, seu filho Justino Pereira, bom flautista, bem como vários tocadores de instrumentos de corda: Manuel Viana – Rabecão; Leonardo Silva – Viola; Adelino e outros, no violino.
Recordo-me das novenas do menino Jesus, tocadas pelos nossos músicos, ensaiadas pelo Senhor Adelino, que culminavam com o nascimento do Menino Jesus na noite de natal, na missa do galo! A tuna tocava e cantava as novenas. Nelas, dois “pastorinhos”, rapazes de dez, doze anos, cantavam lá encima nos púlpitos, versos ao menino: -Ó meu menino Jesus, vinde, vinde já ao mundo, tirar-nos do cativeiro, daquele abismo profundo!” Coisas lindas e maravilhosas!
Um dia, um pastorinho, enquanto esperava a altura de cantar, adormeceu lá no púlpito! Quando chega o momento, o tocador do violino que o acompanhava, deu o sinal para ele cantar, mas o pastorinho adormeceu e por isso não ouvia! Nisto ouve-se do coro uma voz: canta rapaz, canta rapaz, até que ele acordou e cantou, tudo voltando à normalidade!
No dia de Natal, à meia-noite, celebrava-se o nascimento do menino! Na igreja não cabia toda a gente, muitos tinham mesmo que ficar fora da igreja. Antes do Glória, aparecia um anjo a cantar no alto da tribuna, anunciando o nascimento de Jesus. Era o momento mais esperado! Todos, queriam ouvir aquela voz, vinda do céu! Num ano, foi muito giro! Aparece um anjo, calçado com soquitos de madeira, de verniz preto, a cantar lá na tribuna, gerando os mais engraçados comentários!. Nunca mais foi esquecido aquele anjo! Que lindas coisas se faziam em São Julião nesses tempos, dos quais sentimos tantas saudades!
Muitas mais coisas dignas de registo temos para serem contadas e recordadas! Vamos continuar.
Demos as mãos, para que de novo a nossa gente, possa continuar nos caminhos tão maravilhosos, que nos foram legados pelos nossos antepassados.

Manuel Rodrigues, 17/Junho/2008.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Os doutores daquele tempo

É agradável lembrar os tempos dos doutores, que mal conheciam uma letra, mas que de saber era com eles!

Todos os castiços desta terra, eram tratados por doutor: o dr. Pestana, dr. Casinhas, dr.Sabido,dr. Teotónio, dr. Manhoso, dr. Binagreiro, dr. Bira milho, dr. Roquete, dr.Mirones , dr. Manicambone,etc.,etc..

Perante tantos doutores iletrados, o que mais dava gozo verificar era a escolha das alcunhas para cada um. Encaixavam todas às mil maravilhas, no estilo e no tipo de cada doutor, como que mostrando de forma evidente a sua “especialidade”!

Convém ter em conta que estes doutores, faziam parte do grupo dos amigos do “berde”, cuja reunião magna era quase obrigatória aos domingos da parte de tarde, na taberna do Martinho, onde hoje se situa a pastelaria Belinha.

Assim, o dr. Pestana, caracterizava-se por ter umas pestanas e umas sobrancelhas dignas de respeito! Davam de tal modo nas vistas, que o tornavam inconfundível;

O dr. Casinhas, homem de baixa estatura, de ditos sempre bem-humorados, só olhar para ele já fazia rir! Porquê o título? Porque no meio de tantas piadas, no final do domingo no regresso a casa, a despedida não variava: -Bem, vou até casinha!

Dr. Teotónio, homem de conversa em ritmo lento, suave e sempre muito seguro naquilo que dizia, raramente falhava, porque pouco ou nada fazia! Para ele, o trabalho não azedava! Desconheço a origem do título.
Num lindo domingo de Páscoa, depois de receber a visita Pascal em sua casa, com os olhos banhados em água, dizia: -Quando ELE entra na minha casa, sou o homem mais feliz do mundo!
Uns parentes seus, não abriam a porta para receber a cruz, por serem jeovás. Crítico por entender que isso não era bem, dizia cheio de convicção: Esses “obás” estão todos perdidos!

Dr. Manhoso, homem de poucas falas, mãos atrás das costas, sempre atento às conversas dos outros, ouvia muito, mas falava muito pouco. Estilo que lhe conquistou o título.

Dr. Binagreiro, nada escrupuloso nem exigente com a qualidade da pinga. O que queria era enfrascar!

–Olha lá: queres branco ou tinto! Sempre a mesma resposta: - Muito!

Um dia assisti a uma tratantada que lhe fizeram. Quando respondeu - muito, deram-lhe um grande copo de vinho azedo, que tombou quase de um folgo, mas o amargo de boca com que ficou, deixou-o irritadíssimo, em contraste com a gargalhada dos presentes.

Dr. Bira Milho, o grande arquitecto do arco que era construído para as festas da Senhora do Rosário, no segundo Domingo de Maio de cada ano, em São Julião de Passos.

Qualquer coisa de extraordinário, quer pela sua grandeza, - chegava a superar os trinta metros, quer pelos motivos alusivos à festa, que tanto embelezavam o arco!

Construído a partir de enormes varas de eucalipto, colocadas encima de fortes cavaletes ao lado da estrada, desde a parede do adro até à casa do Sr. Justino, cravadas umas às outras com grandes pregos! Depois de construído, era todo ele coberto com festão, ou seja, com tiras cortadas de papel de seda, de várias cores! Era uma autêntica obra de arte! Permanecia erguido à porta da igreja, em exposição, durante todo o mês de Maio!

Espectáculo digno de ser visto, era assistir ao levantamento do arco! Mobilizava dezenas de pessoas, grandes escadas das vindimas, e enormes cordas, que o ajudavam a levantar gradualmente, com equilíbrio, numa apreciável conjugação de forças. Tudo sob a orientação e comando do “bira milho”.

“Trinta padres e quarenta músicos”, era uma expressão muito usada por ele, para significar um grande aglomerado de gente! “Bira milho”, era um incitamento que queria dizer: siga p’rá frente!

Dr. Roquete, o homem sabido. Para tudo ele pensava ter a opinião certa!

Dr.Mirones, observador atento, tudo queria ver e saber! Ainda hoje há muitos!

Dr. Manicambone, o catedrático e chefe de todos os doutores. Era ele quem alcunhava todos os outros!

Para se poder definir, retratar e contar as peripécias deste homem, não chegaria um livro qualquer, seria necessária uma biblioteca!

“A cão belho não chames buxinho”! Expressão que usava, para dizer: não queiras ensinar quem sabe mais.

"Dizem os sábios da terra, que vida eterna não há; com que cara ficarão, quando eles chegarem lá!"

Gostava de falar, à sua maneira, da segunda grande guerra e dos Generais que nela se notabilizaram: Von Papem, Rodolfo Esse, Goring, Hitler! Vibrava ao pronunciar estes nomes. De seguida estendia um relatório enorme, impossível de decorar!

Sobre os Ingleses, dizia: -“Piratas de unha comprida, velha mãe dos rapinantes, que roubaram nossas naus…….

Sobre a ida do homem à lua, ninguém o convencia -“nem pensar nisso, nunca isso seria possível”!

Homem muito aberto à conversa, expunha-se por isso, às vezes, à chacota.

Um dia, alguém, sem que ele desse pela conta, grava uma larga conversa, sobre os temas acima referidos. Depois de bem explorada pelo entrevistador, este roda o gravador e põe com bastante volume a reprodução da entrevista! Ao ouvir tantos disparates, pergunta ele: -“quem é esse filho da pousa?” -É você, responde o interlocutor! Logo se pôs nas ondas!

Contava ele que os filhos o convidaram para ir passar uns tempos à França onde se encontravam emigrados. Lá foi, mas o não compreender os franceses, deixava-o muito intrigado! -Eu sei lá, dizia ele, se me estão a tratar mal? Desanimado, pede aos filhos para, sem demora, voltar para Portugal, "porque não entendo estes gajos"!

Contava que um dia, desanimado, seguia lá por uma viela, quando lá por cima ouve um cão a ganir: Caim. Caim, Caim…, contente exclama: "até que enfim, que ouço falar português"!

Manuel Rodrigues/Maio 2008

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Hino de São Julião


O povo de São Julião,
Mostra que sabe o que quer:
Viver sempre em união
Ainda que digam que não
Ai venha lá quem vier.

Sempre foi terra modelo

Foi sempre gente de paz
Gosta pouco da vaidade
Rejeita toda maldade

Mostra bem do que é capaz!

Ref.
São Julião de Passos -Braga,
Tem tradição, que nunca acaba
Gosto de ti, ó terra querida,

Morar em ti, viver contigo, por todo a vida. (bis)


É terra acolhedora
Nunca gostou de sarilhos
Por isso é tão amada
Por todos tão desejada
E querida dos seus filhos.


Aqueles que estão ausentes
Ansiosos por voltar,
Suspiram por esse dia
De sentir a alegria
De são Julião abraçar.


Manuel Rodrigues/91

domingo, 8 de junho de 2008

“MINHO A CANTAR”-Musica popular Portuguesa

O grupo “Minho a cantar”, teve o seu começo em Junho do ano de 1972.

Inicialmente denominado “Braga popular”, funcionava a modos que, como um grupo doméstico, isto é, exercia a sua actividade em pequenas festas: de aniversário, em animações paroquiais, cantares dos reis, etc.
Foi no verão de 1972 que, através de pessoas conhecedoras das qualidades musicais de elementos do grupo, que recebemos o convite para durante a época balnear, um dia em cada quinzena, irmos à colónia de férias da Legião de Maria, na praia da Apúlia, fazer uma noitada de animação junto dos veraneantes que de vários pontos do país ali passavam as suas férias.

No âmbito da música popular portuguesa, estilo musical deste grupo, e porque do nosso repertório só fazem parte músicas alegres e animadas, no decorrer dos tempos o dia da nossa ida à colónia era sempre ansiosamente aguardado. Torna-mo-nos por isso bastante conhecidos, pelo que não tardaram os convites para fazermos actuações de maior dimensão, nas festas e arraiais em várias localidades.

A par da nossa música regional, fomos impelidos a fazer recolha de músicas que se adaptassem ao nosso estilo, enriquecendo deste modo o nosso repertório.

À medida que fomos crescendo, o nome do grupo “Braga Popular”, pareceu-nos tornar-se um pouco restritivo, razão porque mudamos o nome para “Minho a Cantar, por nos parecer mais abrangente, visto as nossas actuações já se estenderem por todo o Minho, e não só.

O “Minho a cantar” atingiu o seu auge nos finais do século XX, com grandes actuações, destacando-se entre muitas outras, as festas da Senhora da Graça–Mondim de Basto; São Martinho-Paredes de Coura, Senhor do Bom Fim em Goães-Vila Verde, onde actuamos em três anos consecutivos, sempre com numeroso público, Sobreposta-Braga, etc..

Temos dois trabalhos gravados com músicas e letras da nossa autoria, tendo outro trabalho quase pronto a gravar, o que poderá vir a acontecer logo que se torne possível.

As músicas do grupo “Minho a Cantar” têm vindo a ser amplamente divulgadas nas várias estações de rádio, tendo alcançado grande sucesso, as músicas: “Bom Jesus do Monte”, “Fui beber a Vila Pouca”e o “Hino de São Julião”, entre outras.

O grupo é constituído por dez elementos dos dois sexos. Ultimamente, por dificuldades em reunir com regularidade, só esporadicamente o grupo actua em pleno, tendo acontecido pela última vez no dia 26 de Abril p.p., durante a tarde no salão paroquial desta freguesia, e à noite, algures, junto à praia da Madalena, em Vila Nova de Gaia, com uma exibição espectacular.

Aos sábados da parte de tarde, alguns elementos do grupo, alegram com suas lindas canções, os idosos em lares de terceira idade.