sábado, 19 de julho de 2008

Memórias de São Julião-"Letras e Artes"

Letras:
No início de sec.XX, novos horizontes se começaram a abrir para São Julião, com a criação do ensino primário.
Nesse tempo, não dispunha a freguesia de edifício escolar, tendo a casa de Balteito, no lugar do Outeiro, cedido uma sala para acolher e ensinar, aqueles quisessem aprender a ler e escrever.
Não sei como era dantes, apenas me tenham referenciado uma senhora que morava na ilha,(?) ali para os lados do Porto de Martim, e que, particularmente, ensinava a um ou outro umas letras! É um facto porém que, mesmo depois das condições criadas, poucas crianças frequentavam! O ensino não era obrigatório, e pouco habitual aprender a ler, porque era preciso trabalhar! A escola, não fazia falta! Então para as raparigas, é que nem pensar, porque para elas não era necessário saber ler e escrever!
Com essa mentalidade, poucos alunos frequentavam a escola. Desses poucos, alguns, só faziam a 1ª classe; menos ainda a 2ª, e um número muito restrito concluía a 3ª, sendo muito raros os que completavam a 4ª classe, e esses, eram tidos já como uns letrados!
Diziam as pessoas mais idosas, que por essa escola do Outeiro, passaram: a Dona Branca, excelente professora, contrastando com a professora Palmira, que se preocupava pouco em ensinar, e por isso, não deixou tão boa fama!
No meio dessas dificuldades, houve mesmo assim nesses tempos, alguém que conseguiu subir bem alto: o Dr. José Machado, da casa do Souto, que se formou em medicina, vindo a tornar-se um médico de fama. Mercê da sua competência, foi durante muitos anos, Director do Centro de Saúde de Barcelos.
Outro filho desta terra, o Dr. José Maria Ferreira de Araújo, da casa de Fijô, que foi vice-presidente da Câmara Municipal de Braga.
Formaram-se ainda professores primários: o Sr. Isaías e Torcato Machado, da casa do Souto. O professor Isaías foi durante vários anos, adjunto escolar de Braga, e o Sr. Torcato que, depois de uns tempos a ensinar, passou para contabilista duma empresa.
Falava-se ainda do professor Vilaça, que morou no Outeiro, onde vive hoje o “mana”, mas nunca soube qual o grau académico que possuía.Nesse tempo, havia o professor regente, que podia ser desempenhado por quem tivesse a 4ª classe, como a Dª. Rosa Miranda, que também foi professora regente.
Por volta dos anos trinta, foi construído o primeiro edifício escolar oficial de São Julião de Passos, num terreno doado pela casa de Balteiro, no lugar do Outeiro, cá em cima, em frente à casa do Evaristo. Nesse edifício funcionou a escola durante quase quatro décadas e por ali passaram centenas de jovens, de São Julião, de Bastuço e de Martim, com muitos a concluir já, a quarta classe.
A Dª. Maria Augusta Malheiro Silva Domingues, de Braga, foi professora única das quatro classes, durante trinta e tais anos! Ali ensinou avós, filhos e netos.
No ano de 1960, foi inaugurado o edifício da escola primária do Redondal. Já dotado de melhores condições, com três salas, permitiu que um professor, desse aulas a uma só classe, tornando assim melhor, a qualidade do ensino.
Entretanto, a escolaridade tornou-se obrigatória, verificando-se a partir daí, um grande fluxo de alunos para o ensino médio e superior.Uns frequentando os liceus, outros a escola comercial e Industrial, os colégios, seminários e, concluído o 7º ano liceal, quem pudesse e quisesse, ia para a universidade tirar um curso superior.
O ensino técnico-profissional nocturno também começou a funcionar nessa altura. Em horário pós-laboral, foi frequentado por muitos alunos, bastantes desta freguesia, nos cursos de: Electricista, Serralheiro, carpinteiro/marceneiro, curso geral do comércio, etc.. Estes cursos, permitiam o acesso ao ensino superior, nos cursos de engenharia.
Também foi criada a telescola, com aulas dadas através da televisão, com acompanhamento dos alunos por uma professora, na escola do Redondal!
Já na década de 70, dois cidadãos desta terra, formaram a escola de adultos, que funcionou na sacristia da igreja paroquial, durante alguns meses. Depois de oficializado o ensino, passou para a escola do Redondal e orientado por uma professora especializada. Várias pessoas adultas aprenderam a ler e escrever, e cerca de uma dezena fizeram a quarta classe.
Foi, de facto, uma revolução enorme no campo das letras!
São Julião, evoluiu de tal forma que, a nível de freguesias rurais, chegou a ter o maior índice estudantil no concelho de Braga!
Como curiosidade apenas, dar nota que, por essa altura, cerca de trinta jovens de São Julião frequentaram os seminários. Embora nenhum deles tivesse chegado ao grau de “ordenado”, quase todos porém, tiraram o seu curso e, são hoje indubitavelmente, cidadãos prestigiados e muito úteis à sociedade!
De referir ainda que, apesar de não ter sido seminarista, tem São Julião um dos oito diáconos permanentes da Diocese de Braga. São actualmente, os Diáconos: Elísio Portela, natural do Porto; José Maria Araújo, de Amares; Albino Correia, da Póvoa de Varzim; João Ferreira de Guimarães; Carlos Esteves, de Melgaço; Lino Campos, de Barcelos; Manuel Monteiro, de Fafe e Manuel Rodrigues, de Braga.

Artes:

São Julião, chegou a ter uma indústria razoável, com destaque para a marcenaria.
Na arte com menos “arte”, se assim se pode dizer, nas décadas 50 e 60, fabricava-se cá, de madeira de eucalipto, muita mobília de quarto e de cozinha, em indústrias caseiras: do Sr. João da Breia, junto à Igreja; Sr. Domingos Bacorinho, ao pé do cruzeiro; Sr Evaristo, em frente à antiga escola “velha”; e o Sr. José Teixeiro, também ao pé do cruzeiro.
Todas as terças feiras de madrugada, vinham os carreteiros, levar a “obra” para ser vendida na feira de Braga: O Ramalho e o Morgado de Cabreiros. Enchendo os carros até mais não poder, puxados por boas juntas de bois, transportavam as mobílias para a cidade.
É muito antiga a fábrica de serração, no lugar da Serra, ainda hoje existente e, de cujo proprietário eram também os moinhos de farinha, movidos pelas águas do rio “Labriosque”, bem como os lagares de azeite.
No lugar da Serra funcionou também uma oficina que fabricava a parte de madeira das balanças decimais.
Também o lugar da Pedreira tinha moinhos de farinha movidos pelas águas do Labriosque, cujos edifícios ainda lá existem .
No monte de cima havia ainda um moinho de vento, também de moer farinha. Ainda há poucos anos foi destruído. Foi pena, porque muita gente ia até ao local vê-lo e apreciar a linda panorâmica que aquele lugar oferece.
No lugar da Bouça havia uma padaria, uma mercearia e tasca, tudo no mesmo edifício, propriedade da casa do Martinho. Era o centro comercial da freguesia;
No lugar do Monte do Porto, existiam dois ferreiros: um que tratava mais de ferramentas agrícolas, e outro que só fazia tachinha;
São Julião tinha bons carpinteiros: O Sr. Justino Pereira, junto à igreja, mestre de obras, com empregados por sua conta, tal como o mestre Manuel Viana, em Forcadelo;
o Sr. Benjamim do Bairro, no Lugar da Serra, o arquitecto dos arcos da festa de Maio, e o Sr Benjamim Fernandes, da Lardoeira, ambos se dedicavam aos biscates nas casas dos lavradores, fazendo e consertando: Dornas, pipos, carros de bois, etc.
Com teares artesanais, tínhamos: a tia Ana Viana, mãe da Maria Faqueira, tia Arminda Fanada e tia Maria Rosa estrelada. Neles teciam mantas, passadeiras e tapetes, com tiras de trapos velhos. Na casa do Souto também havia um tear, mas de tecer o linho.
São Julião dispunha de muitos e bons artistas: serralheiros, alfaiates, pedreiros, trolhas, mineiros, cesteiros, etc.. Outras pessoas, ocupavam-se na lavoura.
O êxodo emigratório para França, Alemanha e outros países verificado nas décadas de 60/70, o envelhecimento das pessoas e o grande movimento de estudantes que explodiu nessa altura, veio alterar toda a estrutura existente, originando o desaparecimento de várias dessas artes.
Na verdadeira arte, realce para dois dos grandes talentos na área da música: Manuel Gonçalves e Adelino Pereira Gonçalves, Maestros de bandas musicais;
o Jerónimo, pintor de renome nacional e internacional, fez várias exposições de obras da sua autoria, pelo país, em França e no Brasil, et.;
o Padre Mário, pároco desta freguesia desde 1954 a 1980, homem de uma vasta cultura, especialista em Arqueologia, e História, editou o livro: “Lendas do penedo do Castelo” de Paços São Julião.
Realce-se desde já o escritor do nosso tempo, Agostinho Borges Gomes, editor de duas obras literárias de nível: “O Crime de uma sábia” e “Teoria Unificada das Teorias da Relatividade e Quântica”.

Manuel Rodrigues, Julho de 2008.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fantástico artigo e extraordinário blogue!!!
Isto sim é fazer história e perpetuar o nome daqueles que fazem uma terra e edificam uma memória colectiva que o Senhor tão bem e de modo tão dedicado aqui expõe.
Bem-haja. E por favor CONTINUE!