quinta-feira, 10 de julho de 2008

Os tempos mudaram

Recordar os tempos de criança e da juventude, faz com que olhemos para esse passado com certa nostalgia e saudade, apesar de, não ter sido fácil ultrapassar as muitas dificuldades que existiam nesse tempo!
Não é possível comparar o viver de então, com o viver de hoje!
Nas famílias, normalmente numerosas, sentia-se o amor entre todos os seus membros. A veneração, o respeito e a obediência aos pais, era regra quase geral. Os irmãos mais velhos, na sua ausência, assumiam a autoridade e o governo da casa, e como tal, respeitados pelos irmãos mais novos!
Os avós, os tios, e as outras pessoas mais idosas, mereciam o respeito e carinho de todos! Familiares ou não, traziam consigo a escola da vida, aproveitada para servir de exemplo pelos mais novos, que bem sabiam aceitar e agradecer! Hoje, também é assim?
Os pais, educavam os filhos desde pequeninos para os verdadeiros valores, e cedo os ensinavam a trabalhar, dando-lhes tarefas ao seu alcance para se começarem a treinar para a vida, sobrando pouco tempo para brincar.
As brincadeiras desses tempos, nada têm a ver com as diversões de hoje!
Os brinquedos, cada um fazia os seus:
As meninas, faziam as suas bonecas de trapos; jogavam a macaca; de mãos dadas andavam à roda, a cantar as modas da época: a machadinha, ó lindinha; eu sou rica, rica, rica, do marré, marré, marré..; a roda do mel,o jogo do lencinho, e outras lindas modas!
Muito lindos eram os romeirinhos! Formados com vários pares de meninas, de velas e ramos na mão, caminhando a pé, cantando em grupo, para cumprir uma promessa! E que bem que cantavam! -“Ó meu São Bentinho e nós aqui vamos, estes romeirinhos, de velas e ramos….”! Quem fazia a promessa, acompanhava o grupo, levando um merendeiro para as cantoras comerem, após cumprida a promessa.
Em momentos de aflição, as pessoas de fé, rezavam, pedindo a ajuda divina, faziam as suas promessas. Os romeiros, era uma das formas de agradecer as graças recebidas!
Faziam-se romeirinhos: ao São Bentinho, à Senhora de Lurdes, à Senhora do Livramento, Senhora do Sameiro, e outros! Que pena terem acabado! Não só porque era lindo, mas, pior que isso, revela a falta de fé no poder infinito de Deus, único que pode curar e sarar! Hoje, há muitos e bons médicos; muitos e bons remédios; óptimos hospitais! Porque morre tanta gente, muita ainda tão nova? Explicações, podem querer arranja-las, mas, Deus será sempre o Senhor da saúde e da doença, da vida e da morte!
Porque não recorrer a Ele, mesmo através dos santos, como noutros tempos se fazia, pedindo a recuperação da saúde? Nenhum médico, por melhor que seja, nada pode fazer sem que Deus o permita! Ele, é que é o Senhor, a Origem de tudo! Muito se engana quem pensa que pode prescindir d'Ele, ou ignorá-Lo!
Que poder tem qualquer humano para contrariar a natureza, dizendo: não quero que chova, não quero adoecer, não quero morrer,etc.,que o consiga?
Quantos, ditos intelectuais teimaram, e ainda hoje os há,(pobrezinhos), que ousam continuar a "recalcitrar contra o aguilhão"? Que ganham com isso? É só loucura! Quando o Supremo determinar, por mais poderoso que alguém pense ser, não tem alternativa! chegada a hora, parte, como todos sem excepção, ao encontro de Deus que o criou e lhe deu a vida, a quem terá que dar contas, do bem e do mal que praticou na terra, queira ou não queira! Isso, ultrapassa o crer e o querer ou não de cada um.

Os rapazes, também tinham os seus brinquedos. Faziam suas “motas”, tipo triciclo ou mesmo de quatro rodas, feitas à foice! E era assim! Quem quisesse ter brinquedos, tinha que os fazer! E que bem! Apesar de toscos, dava-se-lhe valor, porque eram o fruto do esforço e do talento pessoal!
Havia o jogo do pião, o jogo do botão, (o cuche, o pique, da covinha,) o espeto, o jogo da bola; com os olhos vendados, era giro ver o enfiar da rosca,e a quebra do cântaro! Faziam-se corridas: do saco, do passo de coelho,e as “corridas a pé”! Tudo era diferente mas, em termos pedagógicos, muito melhor que é hoje!
Construindo os próprios brinquedos, desde novo se começava a desenvolver um espírito criativo e empreendedor, que viria a ter reflexos muito positivos no futuro!
Que constroem as crianças e os jovens de hoje?
Nada! Tudo é comprado pronto a usar! Brinquedos e mais brinquedos, sobrando apenas,o tempo para desfazer aquilo que se lhes dá! Podemos facilmente constatar isso! Se só se aprende a destruir, é lícito perguntar: Como será a sociedade do futuro?
É imperioso e urgente repensar novas formas de educar!
É preciso dar oportunidade e espaço às crianças para que possam desenvolver as suas capacidades, e, desde novos, começarem a saber ocupar o tempo em coisas construtivas!
Quais serão as causas do pouco desenvolvimento intelectual, e atrofiamento mental de muitos jovens de hoje? O insucesso nos estudos, não será uma consequência do pouco treino da imaginação? “De pequenino se torce o pepino”! Se não exercitam a mente na fase de menos idade, o raciocínio fica estagnado, e nunca mais dão nada na vida! Vemos tantos jovens por aí inúteis, constituindo um peso para a sociedade!Será só culpa deles?
Noutros tempos havia fome, mas a necessidade obrigava o sujeito a descobrir as formas de sobreviver honestamente! Aos cinco anos, já todos se defendiam! O rapaz ia olhar pelo gado na casa dum lavrador, mesmo que fosse só pela comida, ou então, ia ao monte ás pinhas, ou buscar molhos de lenha, para se cozinhar em casa!
As raparigas, cedo iam servir como empregadas domésticas! Hoje, ninguém quer trabalhar! Não faltam mandriões por aí, a viver à custa do suor dos pais, e até do alheio! Mas, reparem no paradoxo: Não é permitido trabalhar antes dos dezoito anos! Então, se calhar, a culpa até nem é dos jovens! Se a Lei os proíbe de trabalhar, alguém terá que os manter, porque a barriga não faz greve! Dá para pensar!
“Engolindo o garfo” em novo, como se dizia naquele tempo, como poderá depois mais velho vergar a mola? (Engolir o garfo, era andar sempre de costa direita)!
È mesmo urgente repensar a forma como se processa a (des)educação!

No tempo da minha juventude, Maio e Junho era o tempo das festas.
Nesta terra, faziam-se festas em quase todos os lugares!
Era lindo ver os rapazes e as raparigas empenhados em fazer a festa mais bonita: No Monte do Porto, na Pedreira, em Belide, etc..
A Festa do Monte do Porto, no mês de Maio, à Senhora de Fátima e ao Coração de Jesus, tinha tal brilhantismo, que chegou a ser tida como a outra festa da freguesia!
A tribuna, era nas escadas do Manuel Rainha! Coberta com um grande toldo, adornada com várias imagens de santos, velas e muitas flores. Os andores chegaram a ser como os da festa da paróquia, feitos pelo “Pinto”, armador de Cabreiros.
Na frente da “capela”, erguia-se um grande e lindo arco, todo colorido, coberto com listas de papel de seda; nas margens do caminho, um bonito arruado! As moças, faziam grandes e belos e tapetes de flores, ao longo do caminho, por onde ia passar a procissão.
No Sábado à noite,havia uma procissão de velas. Saía da “capela”com o andor da Senhora, acompanhado pelos festeiros e muitas pessoas de vela acesa na mão,acompanhando e recitando o terço cantado! Percorria os lugares da Bouça, da Igreja e recolhia novamente ao Monte do Porto. No final da procissão, um lindo arraial com musica e danças e, pela meia-noite, uma cessão de fogo-de-artifício!
No Domingo, da parte de tarde, tinha lugar a grande procissão, com vários andores! Um “padre” improvisado, com uma saia branca a servir de sobrepeliz, fazia um sermão e dirigia a festa. À frente da procissão iam lindas bandeiras e anjinhos, depois os andores e, logo atrás, todo mundo cantando, entoavam cânticos a Nossa Senhora! O itinerário, era o mesmo da procissão de velas. Recolhida a procissão, realizava-se um bazar, com segredos oferecidos pelas mordomas, leiloados, disputados e comprados pelos rapazes, candidatos a namorados delas!
Que pena não haver hoje nada disso! Há muita razão, para ter saudades desses inesquecíveis,lindos e belos tempos! Acreditem! Era mesmo assim.
Na Pedreira e Belide, em Junho, faziamam-se as cascatas dos santos populares:-Santo António, São João e São Pedro. Não podia haver coisa mais linda! Correntes de água cristalina, deslizavam em rêgo, por entre os santos colocados dentro da cascata, feita com ramagens frondosas, a fazer de paredes da capela! Lindo,lindo!.
Os tempos mudaram! Neste capítulo específico, melhor fora, que nunca tivessem mudado!

Manuel Rodrigues, Junho/2008

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